quinta-feira, 25 de março de 2010

Anunciação do SENHOR


A FÉ DE MARIA



Fonte: www.opusangelorum.org



"Por aqueles dias, Maria pôs-Se a caminho e dirigiu-Se apressadamente para a montanha, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, exultou-lhe o menino no seio, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo; e exclamou em voz alta: "Bendita és Tu entre as mulheres e bendito o fruto do Teu ventre! E donde me é dado a graça que venha visitar-me a Mãe do meu Senhor? Pois, logo que me chegou aos ouvidos o eco da tua saudação, exultou de alegria o menino no meu seio. Ditosa aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que Lhe foram ditas da parte do Senhor" (Lc. 1, 39-45).

Santa Isabel chamou "feliz" a Maria porque "acreditou" naquilo que lhe foi dito da parte do Senhor (v. 45).
O que quer dizer esta palavra: acreditar, crer?
- Crer significa estar convicto.
- Crer é estar aberto a um ensinamento com docilidade.
- Crer não é saber, significa aceitar incondicionalmente como verdadeiro, aquilo que a fé nos apresenta.
Sem a graça da fé o homem anda às escuras e não pode orientar-se sozinho, pois a realidade humana na sua totalidade ultrapassa todos os limites da ciência, da matemática, da lógica. O homem para realizar o todo da sua existência precisa duma luz, que claramente lhe proponha a verdade da fé em:
- Deus Uno e Trino
- na Redenção de Cristo
- na Santa Igreja...
A fé ajuda-nos a reconhecer a verdade de cada palavra de Deus sem esta precisar de adorno ou disfarce. Cada palavra de Deus é clara e simples e tem a sobriedade daquilo que é verdadeiro. É precisamente isto que transparece nitidamente nas palavras de São Gabriel nas duas anunciações: a Zacarias (Lc. 1,5-23) e a Nossa Senhora (Lc. 1,26-38).
As palavras que São Gabriel pronuncia são as palavras de Deus, por isso estão na justa medida, isto é, não há palavras a mais ou a menos e qualquer um as pode compreender. Por exemplo, o Anjo em Fátima falou claramente aos 3 pastorinhos e as suas palavras penetraram de tal modo nos seus corações que jamais se esqueceram delas. Estas palavras não precisaram de qualquer explicação ou enfeite.
Como chega a criatura humana a esta graça de reconhecer a verdade da Fé e a vivê-la tal como Maria na Anunciação? Tal graça só a atingirá os grandes na Fé; temos que juntar à vontade de crer a generosidade de aceitar incondicionalmente o que a fé ensina, por ser Deus quem o faz.
Maria SSma. na anunciação só se perturbou com o elogio que o Anjo Lhe deu, mas quanto ao anúncio da concepção do Verbo Ela acreditou com todo o Seu Coração, mas não ficou só por aqui. Maria além de crer mesmo sem compreender, aceitou generosamente e incondicionalmente aquilo que acreditou por ser tudo obra de Deus n'Ela. Depois de ter dado este passo, Deus ultrapassou em muito a Sua generosidade e recompensou-A com a luz da clareza, a tal ponto que Maria confessou diante de Santa Isabel: "Grandes coisas fez em Mim o Omnipotente" (Lc. 1,49).

Mas a Fé de Maria na anunciação além de mostrar-nos o reconhecimento da verdade em cada palavra de Deus, revela-nos também uma atitude de abertura. Ela aceitou o anúncio porque estava aberta aos apelos de Deus a cada instante da Sua vida.
O Senhor pode vir até nós com um apelo de amor a qualquer momento, a qualquer hora, a qualquer dia e muitas vezes tem de seguir à frente pois o homem não estava pronto para O receber, não estava vigilante e por isso não O podia reconhecer por detrás das circunstâncias da vida. Ex. por detrás duma contrariedade, por detrás de alguém que pede ajuda muito discretamente; por detrás de um mendigo.
O Senhor fala no silêncio, tal como o Anjo da Guarda. São Gabriel trouxe o anúncio da Encarnação quando Maria estava no mais profundo silêncio no seu quarto em Nazaré. Este anúncio não se deu quando Maria, por exemplo, estava na fonte a buscar água ou quando estava na praça de Jerusalém por ocasião de alguma festa religiosa. Ela escutou o Anjo porque estava vigilante. Disse Jesus: "Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, ao voltar do seu noivado, a fim de lhe abrirem a porta, assim que ele chegar e bater. Felizes aqueles servos que o senhor, quando vier, encontrar vigilantes" (Lc. 12, 36-37a; Mt. 24,42- 51). A prontidão para a fé é o solo para a semente da Palavra de Deus.
Mas à verdade na fé e na prontidão da fé, Maria juntou uma 3ª virtude: a Humildade na FÉ. Humildade é coragem de servir. Maria por ser Imaculada não tinha nenhuma obscuridade no seu ser como conseqüência do pecado como nós temos. Sua inteligência era iluminada sem qualquer obstáculo pela luz de Deus e por isso podia penetrar profundamente nas Escrituras Sagradas. Ela bem sabia qual era a verdadeira missão do Messias: Ele viria como o "Servo" sofredor para tirar o pecado do mundo, dando a Sua vida sobre o madeiro. Muitas mulheres desejavam ser a mãe do Messias pois pensavam que Ele viria como um rei poderoso para libertar Israel das mãos dos romanos.
Maria na anunciação já viu simbolicamente a Cruz, e estava consciente do seu significado e quais as consequências para Ela. Foi olhando para a Cruz e tendo no Seu Coração coragem para servir incondicionalmente a vontade de Deus, que Maria pronunciou no Seu "Faça-se em Mim segundo a Vossa Palavra" (Lc. 1,48a). Foi esta humildade que A deixou pronunciar o Seu SIM, que manteve toda a Sua vida e o teve de renovar muitas vezes.
A fé de Maria na anunciação foi-se enriquecendo pela sua vida fora, graças à fidelidade. Esta virtude no homem é um reflexo da fidelidade do Criador, que mesmo sendo nós infiéis, Ele permanece fiel. Foi esta fidelidade na fé que deu a Nossa Senhora:
- a tenacidade para tudo suportar,
- a fortaleza do sofrimento oculto e da expiação,
- a coragem para o martírio.
Por isso a humildade mariana é algo mais que a nossa simples coragem de servir. A humildade de Maria consiste na santa e silenciosa renúncia na plenitude da Fé. O que quer dizer isto?
- Crer num homem e renunciar?
- Crer numa missão e renunciar?
- Crer no Senhor e renunciar, retirando-se para a obscuridade?
Jamais poderemos avaliar a tenacidade, a fortaleza e a coragem contida na renúncia de Nossa Senhora. Ela que mais amou Jesus, mais fiel Lhe foi, teve que aceitar a cada momento ser posta em último lugar por Seu Filho e viver ignorada. Temos este "estar em segundo plano" nos próprios Evangelhos.
Na apresentação escreve São Lucas: "Seu pai e Sua mãe estavam admirados com o que se dizia d'Ele" (Lc 2,33).
Não era de direito que Maria fosse mencionada em 1º lugar pois São José, na verdade, não era pai de Jesus? Maria aceita ser posta em segundo lugar e Ela própria se põe em último plano no pequeno diálogo, que teve com o Seu Filho, quando O encontrou no Templo de Jerusalém aos 12 anos: "Filho, porque nos fizestes isto? Olha que Teu pai e eu andávamos aflitos à tua procura" (Lc. 2,48).
Durante a vida pública, Jesus e os Seus discípulos eram acompanhados por algumas mulheres que serviam-nos com o seus bens. São mencionadas expressamente: Maria Madalena, Joana mulher de Cusa, Susana e é acrescentado "e muitas outras"(Lc. 8, 1-3). Maria SSma. como a mais fiel discípula, certamente também estava presente para O servir, mas o Evangelista incluiu-A só entre "as muitas outras", nem sequer mencionou o Seu Nome.
Os quatro Evangelistas consagram diversas páginas a diálogos que Jesus teve com diversas mulheres:
- Com a cananéia que pede a cura de sua filha (Mt. 15, 21-28)
- Com a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt. 20, 20-23)
- Com a pecadora arrependida em casa de Simão, o fariseu (Lc. 7, 37-50)
- Com a mulher que sofria do fluxo de sangue (Lc. 8, 43-48)
- Com Marta e Maria (Lc. 10, 38-42; Jo. 11, 20-35)
- Com a mulher encurvada à 18 anos e que foi curada na Sinagoga (Lc. 13, 10-17)
- Com a Samaritana (Jo. 4, 1-27)
- Com a mulher adúltera (Jo. 8, 10-11)
- Com Maria Madalena depois de ressuscitado (Jo. 20, 11-18)
Jesus teve atenções directas para com determinadas mulheres:
- Jesus acolhe os pequeninos que eram levados por suas mães (Mt. 19, 13)
- Para com a sogra de Pedro (Lc. 4, 38-39)
- Para com a viúva de Naim (Lc. 7, 11-15)
- Para com o óbulo da viúva (Lc. 21, 1-4)
- Jesus defende Maria Madalena que O ungiu em Betânia antes da Sua Paixão (Jo. 12, 4-8)
Durante a vida pública só João, uma vez, subentende um diálogo de Jesus com Sua mãe. Foi precisamente depois das Bodas de Caná. Diz o Evangelista: "Depois disto, desceu a Cafarnaum com a mãe, os irmãos, e os discípulos, e ali ficaram alguns dias" (Jo. 3, 12). Quanto ao mais Jesus parece pôr sua Mãe para o último plano.
Ex.: Quando Lhe anunciam que Sua Mãe e seus familiares querem vê-LO, Jesus responde: "Minha Mãe e Meus irmãos, são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lc. 8, 19-21; Mc. 4, 31-35)
Ex.: Quando no meio duma pregação, uma mulher entusiasmada perante as palavras de Jesus, pressente a Sua grandeza messiânica e a grandeza de Sua Mãe. Por isso A elogia. Jesus vela Maria ao responder: "Felizes os que escutam a palavra de Deus e a põem em prática"(Lc. 11, 27-28)
Maria retirou-Se para esta máxima obscuridade e no abandono por Deus, porque acreditava firmemente e ninguém A podia abalar nesta Fé. Nós podemos adquirir humildade da Fé, também partindo deste ponto: devemos aprender a crer, a crer firmemente. Devemos estar convencidos da existência de Deus, de tal maneira que nada nos pode tirar esta Fé.
Ex.: Crer que Deus é, mesmo depois de presenciarmos um grande escândalo. Crer que Deus é, mesmo depois de vermos um grande mau exemplo de alguém cheio de responsabilidade. Crer que Deus é, mesmo se Ele permite que caiamos numa grande desilusão, ou se estamos crucificados numa doença incurável...
Depois, reconhecendo a grandeza de Deus e o nosso nada, devemos ser capazes de dizer o nosso "Sim" a tudo o que Deus manda, mesmo sem compreendermos, sabendo que tudo vem da Sua mão paternal, a qual é sábia e bondosa. Quando chegarmos a este ponto, então possuiremos a humildade na fé.
Nesta altura podemos levantar uma outra pergunta: qual é o conteúdo , o tesouro da nossa fé?
- São as Palavras e parábolas de Jesus Cristo
- São os Santos Evangelhos
- É a doutrina da Igreja
- São os Santos Dogmas...
Isto tudo é a presença de Deus no meio de nós através da "Palavra'. Alguns sacrários de Igrejas Orientais estão divididos em duas partes: num lado está o SSmo. Sacramento e no outro está a Sagrada Escritura, para mostrar que são duas presenças do mesmo Deus e que ambas devem ser honradas, respeitadas e amadas.
Esta Palavra de Deus e a sua explicação pela Igreja são a bússola do nosso caminho. São um tesouro que devemos resguardar, prontos a sacrificar a nossa vida por Ela. Assim como houve mártires da Eucaristia na História da Igreja. Ex.: São Tarcísio; assim também o há mártires da Palavra de Deus - ex.: os missionários em terras pagãs. Temos bem recentemente os mártires que tem havido em Angola e Moçambique.
A defesa deste tesouro deve começar dentro de nós. Quantas vezes somos bombardeados por
- ideologias erróneas
- por doutrinas pregadas de porta em porta sob a aparência de verdade
- por dúvidas semeadas por sistemas de pensamento aparentemente lógicos
- ou por insuficiência da nossa inteligência para compreender aquilo que a Igreja nos ensina e nos propõe, ex.: os métodos artificiais de controle de natalidade que a Igreja interpretando a Lei Divina os condena.
A força da nossa fé, que recebendo de Deus a sua luz e o seu poder, alarga e fortalece as almas, ilumina cada coisa que nos parece obscura, supera toda a confusão na visão clara para Deus, dando-nos força para rasgar e desmascarar todas as ciladas do maligno, mesmo as mais ocultas.
O tesouro da fé é um todo único em que um dos seus elementos está ligado aos demais. Se deixarmos cair alguma coisa, mais dia menos dia, atrás disto irá outro elemento, e bem depressa o inimigo nos roubará todo o tesouro da nossa Fé. Tal como Maria devemos conservar íntegro até ao fim o nossos tesouro. "Maria conservava todas estas coisas no Seu Coração" (Lc. 2,19) "Sua Mãe guardava todas estas coisas no Seu Coração" (Lc. 2, 51).
Por isso devemos rezar muitas vezes: "Ó Maria, fazei que nossos coração se torne forte e corajoso na disciplina da fé, a fim de que, sem vacilar, saibamos caminhar pelas vias do sacrifício, que o amor incompreensível e exigente de Deus nos indica". Amen.

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