domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre o "por todos" e o "por muitos". Já se passaram 03 anos...


CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A
DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS.


"Pro multis significa por muitos"


      Documento:


    Roma, 17 de outubro de 2006

    Sua Eminência/Excelência,

    Em julho de 2005, esta Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, por acordo com a Congregação para a Doutrina da Fé, escreveu a todos os Presidentes das Conferências Episcopais para requisitar sua opinião ponderada acerca da tradução, para os diversos vernáculos, da expressão "pro multis" na fórmula para a consagração do Preciosí ssimo Sangue durante a celebração da Santa Missa (ref. Prot. N. 467/05/L de 9 de julho de 2005).

   As respostas recebidas das Conferências Episcopais foram estudadas pelas duas Congregações e um relato foi feito para o Santo Padre. Sob a direção dele, esta Congregação agora escreve a Sua Eminência/Excelência nos seguintes termos:

    1. Um texto correspondente às palavras pro multis, transmitido pela Igreja, constitui a fórmula em uso pelo Rito Romano em Latim desde os primeiros séculos. Nos últimos 30 anos aproximadamente, alguns textos em vernáculo aprovados contiveram a tradução interpretativa "por todos""per tutti", ou equivalentes.

    2.
 Não há absolutamente qualquer dúvida sobre a validade das Missas celebradas com o uso de uma fórmula devidamente aprovada contendo a fórmula equivalente a "por todos", conforme a Congregação para a Doutrina da Fé já declarou (cf. Sacra Congregatio pro Doctrina Fidei, Declaratio de sensu tribuendo adprobationi versionum formularum sacramentalium, 25 Ianuarii 1974, AAS 66 [1974], 661). Com efeito, a fórmula "por todos" indubitavelmente corresponderia a uma interpretação correta da intenção do Senhor expressada no texto. É um dogma de fé que Cristo morreu na Cruz por todos os homens e mulheres (cf. João 11:52; 2 Corintios 5,14-15; Tito 2,11; 1 João 2,2).

   3. Há, contudo, muitos argumentos em favor de uma tradução mais precisa da fórmula tradicional pro multis:

   a. Os Evangelhos Sinóticos (Mateus 26,28; Marcos 14,24) fazem referência específica a"muitos" (πολλων = pollôn) pelos quais o Senhor oferece o Sacrifício, e essa formulação foi enfatizada por alguns estudiosos bíblicos em conexão com as palavras do profeta Isaías (53, 11-12). Teria sido perfeitamente possível aos textos evangélicos terem dito "por todos" (por exemplo, cf. Lucas 12,41); todavia, a fórmula apresentada na narrativa da instituição é "por muitos", e as palavras foram fielmente traduzidas assim na maioria das versões modernas da Bíblia.

    b. O Rito Romano em Latim sempre disse pro multis e nunca pro omnibus na consagração do cálice.

   c. As anáforas dos diversos Ritos Orientais, sejam em grego, siríaco, armênio, línguas eslavas, etc., contêm o equivalente verbal do latim pro multis em suas respectivas línguas.

    d. "Por muitos" é uma tradução fiel de pro multis, ao passo que "por todos" é, ao invés, uma explicação do tipo que pertence propriamente à catequese.

    e. A expressão "por muitos", embora permaneça aberta à inclusão de cada pessoa humana, reflete também o fato de que essa salvação não é efetuada de um modo automático, sem o concurso da vontade ou a participação de cada um; pelo contrário, o fiel é convidado a aceitar na fé o dom oferecido e a receber a vida sobrenatural que é dada àqueles que participam neste mistério, pondo também isso em prática na vida, para ser contado no número daqueles "muitos" aos quais o texto faz referência.

    f. De acordo com a Instrução Liturgiam Authenticam, deve haver o esforço para uma maior fidelidade aos textos latinos contidos nas edições típicas.
    As Conferências dos Bispos daqueles países onde a fórmula "por todos" ou sua equivalente está atualmente em vigor são, portanto, requisitadas a realizar a catequese necessária aos fiéis sobre essa questão nos próximos um ou dois anos, para prepará-los para a introdução de uma tradução vernacular precisa da fórmula pro multis (ou seja, "por muitos""per molti", etc.) na próxima tradução do Missal Romano que os Bispos e a Santa Sé aprovarem para uso em seu país.

    Com a expressão de minha alta estima e respeito, permaneço, Sua Eminência/Excelência,

        Devotamente Seu em Cristo,


                                        Francis Cardeal Arinze, Prefeito.

O verdadeiro significado da Vocação Sacerdotal


Antonio Thatler
"Nec quisquam sumit sibi honorem, sed qui vocatur a Deo tanquam Aaron" (Hb V, 4)
["Ninguém se arrogue esta honra, senão o que é chamado por Deus, como Aarão"]

"Vocari autem Deo dicuntur qui a legitimis Ecclesiae ministris vocantur"
(Catecismo de Trento: Ordine.)
["São ditos chamados por Deus os que são chamados por legítimos ministros da Igreja"]
A vocação tanto no sentido lato como no sentido estrito (a vocação sacerdotal), ambas são temas de muita discussão, seja entre grupos, seja na consciência da própria pessoa.
Isso se dá pois desde o século XVII o sentido de vocação sacerdotal foi corrompido e se perdeu a simplicidade com que era tratado o tema antigamente.
O autor de "La Vocation Sacerdotale¹", o Pe. Joseph LAHITTON, ao publicar seu livro gerou diversas polêmicas no meio eclesiástico, principalmente entre reitores de seminário e teólogos, pois a explicação que expõe sobre o que é a Vocação Sacerdotal contrasta fortemente com o que a maioria das pessoas desde o século XVII (autores santos inclusos) pensam sobre o tema. Por isso, muitos deles quiseram colocar seu livro no Index e, para solucionar de vez a questão, o Papa da época, S. Pio X, resolveu criar uma comissão de cardeais para analisar o livro. Dessa comissão saiu o parecer definitivo de que o livro do Pe. LAHITTON expressa a mais ortodoxa doutrina católica sobre o tema. Mesmo assim, infelizmente, essa obra ainda é muito pouco conhecida atualmente e, conseqüentemente, a idéia errônea sobre a Vocação Sacerdotal ainda é muito difundida entre os católicos do mundo.
Não pretendemos abordar todo o livro neste artigo, pois ele trata exaustivamente sobre o tema e aqui nos limitamos apenas a ressaltar os pontos principais acerca da Vocação Sacerdotal tal como ela deve ser compreendida.
Primeiramente, o que pode chocar muitos, nenhum seminarista do mundo tem Vocação Sacerdotal. Mesmo os que juram de pé juntos terem "sentido" a Vocação no âmago do seu ser, ou os que dizem querer ser sacerdote desde a mais tenra idade tendo inclinação para tal, nenhum deles tem a Vocação Sacerdotal. E por quê? Porque apenas o Bispo confere o chamado sacerdotal ao chamar (vocare) o candidato ao sacerdócio no Rito da Ordenação. Apenas após receber a Ordem é que se pode dizer, em sentido próprio, que a pessoa recebeu a Vocação Sacerdotal, pois recebeu esse chamado de Deus por meio do Bispo, representante de Deus na Terra. E também é por isso que, em sentido estrito, é errado dizer que um padre pode perder a vocação ao longo da vida, pois tendo o caráter sacerdotal impresso na alma, não se o perde mais, mesmo após cometer as piores atrocidades.
O que querem dizer, então, quando falam que alguém tem vocação ou perdeu a vocação?
Deve-se entender aqui a vocação no sentido amplo da palavra, sendo sinônimo de idoneidade ao sacerdócio. Essa idoneidade, para o sacerdócio, consiste em: ser homem, batizado, com condições físicas, intelectuais e morais necessárias para exercer o sacerdócio. Logo, para buscar o sacerdócio, é preciso ter: intenção retaidoneidade intelectual e idoneidade moral. Critérios bem objetivos, nada sendo dito de fatores subjetivos tais como: inclinação ou atração ao sacerdócio, graças místicas extraordinárias, etc.
O autor ressalta que a vocação pode ter 3 origens:
  1. Revelação divina formal, como é o caso de S. João Bosco que teve a visão na qual cuidava de garotos e Nosso Senhor o chamava para cuidar deles.
  2. Inspiração divina, isto é, se tem um impulso da vontade pela graça em direção ao sacerdócio, sem uso das sugestões da imaginação nem da deliberação da inteligência
  3. Eleição sobrenatural, relativa à virtude da prudência infusa, sem revelações pessoais, nem impulsos da vontade, mas fruto de meditações, deliberações e de eleição feita à partir da livre iniciativa.
Aparentemente, o modo 1 seria o ideal para avançar em direção ao sacerdócio, enquanto que o modo 2 seria o mais comum e o modo 3 seria algo de sacrílego, pois como pode alguém, utilizando apenas a inteligência, buscar o sacerdócio sem ter sido chamado por Deus? Seria um usurpador!
E é aqui que todos se enganam. O modo 1 e 2 podem nos enganar, pois podemos nos iludir achando que é inspiração divina o que é inspiração do demônio. Enquanto que o modo 3, baseado na reta razão, que explicaremos mais à frente, é o mais seguro. Assim, os modos 1 e 2 só servem para formar o modo 3, enquanto que o modo 3 se basta por si mesmo. Não se ignora aqui que o modo 3 pressupõe a graça, pois toda moção a um bem sobrenatural (a maior glória de Deus e a salvação das almas pelo sacerdócio) não pode ser fruto da natureza humana, mas da graça divina. O que se exclui aqui é a teoria da expectativa, onde se espera receber um sinal de Deus para se decidir em favor do sacerdócio.
Em 1907, o cardeal Gennari numa obra em que diz: "deve-se evitar dois opostos: o semi-pelagianismo que diz que podemos com nossas obras e livre-arbítrio nos antecipar à graça e o quietismo que ensina que devemos antes esperar receber a graça sem nada fazer anteriormente devendo apenas seguí-la. O correto é que a graça é necessária para começar, prosseguir e completar qualquer boa obra, mas essa graça não é extraordinária ou sensível. Logo devemos nos esforçar a fazer obras santas, supondo sempre em nós a dita graça. Se Deus se manifesta de modo sensível, cabe examinar com diligência se ela vem de Deus" (pg. 136, "Del falso misticismo")
No que consiste, então, essa resolução ao sacerdócio?
Essa resolução se dá pelo seguinte silogismo genérico:
  1. Ama-se a Deus e se quer fazer algo por Ele (querer inicial [aqui o autor utiliza o termo "sentimento inicial", o que daria a impressão do sentimento vir antes de tudo, mas mais à frente ele classifica mais adequadamente essa postura inicial como "querer primitivo" que, obviamente, aparece após se conhecer algo de Deus, pois só podemos querer algo após o conhecermos])
  2. Quer-se que outras almas tenham o mesmo querer em relação a Deus (intenção inicial)
  3. Como alcançar isso? (deliberação)
  4. Pelo sacerdócio!... mas sou tão fraco!... Todavia: "tudo posso Naquele que me conforta²" (conclusão da deliberação)
  5. Escolho então o sacerdócio! (eleição)
  6. Serei então padre. Devo buscar o sacerdócio. (intenção nova)
  7. Como alcançá-lo? (nova deliberação)
  8. Entrando no seminário. Sendo dócil à formação que lá se dá e correspondendo às graças de Deus (conclusão da deliberação)
  9. Entrarei então no seminário e farei o que me propus (nova eleição)
  10. Entremos, então, no seminário e mãos à obra! (resolução imperativa)
  11. Vida no seminário até atingir o sacerdócio (execução)
Aqui, cabe ressaltar que o item (d) pode ser substituído por outra coisa, como a vida religiosa, ou a de leigo celibatário, ou a de casado. O que se busca ressaltar aqui é a intenção e a razão que devem mover o candidato ao sacerdócio. Basta escolher o sacerdócio por um motivo digno do sacerdócio, e assim tem-se uma intenção sobrenatural. Não há aqui nem revelação, nem inclinação sobrenatural, nem inclinação natural. Elas podem ajudar a atingir a eleição do sacerdócio, mas não são essenciais.
Ora, só podemos querer algo que conhecemos. É por isso que não se deve levar em conta quando uma criança ou um recém-converso diz querer ser padre. Deve-se antes compreender o que é o sacerdócio para depois se tomar uma decisão prudente, com a ajuda de conselhos de pessoas
convenientes, em direção dele.
Daqui decorre a utilidade dos Seminários Menores para mostrar aos jovens o que é o sacerdócio e à partir dele tomarem a decisão mais fundamentada de seguir ou não em direção ao Seminário Maior. O Seminário Maior não é, no entanto, o local onde estão as pessoas que inexoravelmente serão padres. Sua função ainda é a de fazer conhecer a vida sacerdotal, retificar a intenção dos candidatos para ajudá-los a tomarem melhor a decisão e torná-los idôneos intelectual e moralmente, até o dia em que fizerem os votos, ao receberem o subdiaconato.
Após ter feito a eleição pelo sacerdócio, o candidato deve ter a intenção firme e constante de obter, não o sacerdócio, mas a idoneidade sacerdotal. A idoneidade do candidato, porém, não lhe dá direito à Ordenação. Isso se dá, pois não se é padre para benefício próprio, mas para o bem da Igreja, e quem decide quais são as necessidades da Igreja são os Bispos. Logo, se um Bispo, hipoteticamente, precisar de apenas 3 padres para a sua diocese, e possuir 20 seminaristas no seminário, ele pode, ou melhor, deve, escolher apenas os 3 mais aptos para o cargo, não necessariamente os mais santos, pois esses podem viver melhor como religiosos do que padres, mas os mais aptos às suas necessidades. Não se deve ser padre para buscar primeiramente a santidade própria, isso é próprio dos religiosos, mas se deve buscar ser "vocacionável" em relação ao Bispo, isto é, se deve buscar ser cada vez mais idôneo intelectual e moralmente. Não há um direito ao sacerdócio, mas é o Bispo quem decide quem será ou não padre, com base em limites mínimos de idoneidade intelectual e moral, pois que ninguém é capaz de alcançar, dentro do espaço de tempo de uma vida humana, a ciência e a santidade próprias do sacerdócio, mas se deve buscá-las continuamente.
Deus pode não querer necessariamente que alguém venha a ser padre, como é o caso típico do pai de Santa Teresinha de Lisieux. Deus pode querer que alguém fique no Seminário por um determinado tempo e depois saia, utilizando o que aprendeu lá dentro em benefício para o resto de sua vida. O
seminarista deve primeiro buscar fazer a vontade de Deus antes que buscar o sacerdócio "à todo custo". Um exemplo disso é a história de Abraão e Isaac. Deus move interiormente Abraão a imolar seu filho, Isaac, mas não quis que isso chegasse a cabo, impedindo na última hora que Abraão imolasse seu filho, sem, contudo, tê-lo impedido antes. Santa Teresa d'Ávila, longe de atração, tinha repúdio à vida religiosa, mas decide por ela mesmo assim para garantir sua salvação. A fé dá as premissas e a razão as une para obter uma conclusão.
No que tange a falta de vocação, vemos que ela é devida à omissão de Bispos e padres no seus respectivos papéis de recrutadores de sacerdotes em que deviam formar os jovens, tornando-os idôneos ao sacerdócio e motivando-os a conhecer a vida sacerdotal, a começar com o exemplo próprio.
Hoje em dia, a motivação de seguir o sacerdócio provém principalmente de livros de santos, pois os exemplos de muitos sacerdotes atuais mais desmotiva que ajuda um jovem a ser sacerdote.
O Bispo, no seu papel de "procurador da vinha³" não deve esperar sentado enquanto jovens que "se sentem chamados" lhe vão ao encontro para se tornarem sacerdotes. Esta é a noção errada de vocação sacerdotal que produz diversos frutos ruins. S. Paulo ao chegar num lugar novo, esperava ele que pessoas viessem tornar-se padres? Como poderiam se nem sabiam o que é o sacerdócio? Foi S. Paulo que após instruir o povo, escolheu os mais idôneos para o sacerdócio. Então a atitude é objetiva e parte do superior para o inferior, e não o oposto, onde o inferior, por uma moção subjetiva, busca o superior.
De fato, atualmente não é mais possível que o Bispo escolha o sacerdócio dentre todos os fiéis de uma cidade grande pois é impossível conhecer bem todos os candidatos, daí a necessidade do Seminário que "filtra" os interessados de modo que o Bispo escolherá para o sacerdócio apenas os que se dispõem para tal, no seminário. Essa redução do espaço amostral não implica que todos os seminaristas virão a ser padres, pois o Bispo tem o dever de chamar apenas os que preencheram os quesitos por ele estabelecidos (incluindo as idoneidades intelectual e moral). O autor, por experiência, diz que um Bispo nunca se arrependeu ao dispensar um candidato por engano, mesmo sendo ele idôneo para o sacerdócio, mas se arrependerá amargamente pelo resto da vida por apenas um candidato não-idôneo que ele tenha feito sacerdote, pois ele será parcialmente cúmplice de todos os erros e escândalos que esse padre cometer, mostrando com qual rigor o Bispo deve ter para selecionar os candidatos.
Finalizando a explicação sobre a verdadeiro significado da Vocação Sacerdotal4, tratarei do que é necessário para um candidato buscar o sacerdócio: a intenção reta, a idoneidade intelectual e moral.
Há 3 julgamentos que podemos fazer sobre a idoneidade de um candidato:
  • zona externa: são os impedimentos físicos e canônicos de um candidato ao sacerdócio. Por exemplo, uma pessoa muda não pode ser padre, pois lhe é impossível consagrar uma hóstia.
  • zona intermediária: exteriormente, o candidato demonstra sua idoneidade moral e intelectual, ao seguir ao longo dos anos no seminário o regulamento e conseguindo boas notas nos exames.
  • zona secreta: aqui o candidato coloca-se diante de Deus e da Igreja. Convém pedir conselho a alguém mais sábio, um diretor espiritual de confiança, por exemplo.
Deve-se ter também o desejo de castidade perpétua e "manter-se numa dependência perpétua da ação divina, se desconfiar constantemente de si mesmo, rezar constantemente, agradecer a Deus pelo que recebeu e implorar aquilo de que ainda se tem necessidade." (pg. 108 do livro).
A intenção reta se fundamenta na glória de Deus e na salvação das almas, buscadas espontâneamente em direção do sacerdócio, mesmo após hesitações e repugnâncias.
A idoneidade intelectual consiste na capacidade de aprender as ciências propriamente sacerdotais. O autor aconselha: "Se queres fazer progressos rápidos e sólidos nos estudos das ciências sagradas, aplique-os à sua conduta" (pg. 453)
A idoneidade moral consiste nos 3 julgamentos que expusemos acima. Se houver queda certo tempo antes do subdiaconato, convém esperar mais antes de receber essa ordem que já exige os votos. Aqui o autor recomenda duas características que devem ser próprias de todo seminarista: a humildade e o espírito de sacrifício. Máximo a se buscar: "a medida de amar a Deus é amá-lo sem medida5".
Essa é, em resumo, a noção verdadeira da Vocação Sacerdotal.
Então, de onde veio a idéia moderna de vocação largamente difundida em nossos dias?
O autor explica que o sentido da palavra "vocação" foi alterado no século XVII para evitar a vinda de padres indignos que buscavam o sacerdócio para obter vantagens para a família ou por falta de coisa melhor a fazer (não queriam trabalhar, guerrear, etc.). Mas essa foi a saída errada, o correto seria que os Bispos barrassem esses candidatos, mas, por fraqueza humana, não o fizeram...
Desde então, a vocação é entendida como uma inspiração divina (modo 2) e não como fruto de uma meditação deliberada (modo 3) pela qual se busca a idoneidade para alcançar o fim. De tal modo que muitos buscam o sacerdócio com base em consolações espirituais recebidas e, ignorando o quesito da idoneidade, "bem rápido o anjo [a atração sensível] some, fica só a besta!" (pg. 360). Essa idoneidade deve ser analisada pelo Bispo (ou alguém delegado por ele) e pelo próprio candidato (se busca ser honesto diante de Deus).
Isso explica a dificuldade de se entenderem os textos que tratam atualmente sobre o tema da vocação, mesmo entre os santos, como, por exemplo, o grande doutor da Igreja, Santo Afonso. Ele condena os Bispos que conferem as Ordens aos não-chamados. Ora, pela explicação acima, sendo o Bispo quem dá o "chamado" propriamente ao candidato, não faz sentido o Bispo "chamar" quem já é "chamado", como Santo Afonso quer. Pela noção moderna de vocação, se entenderia que Santo Afonso queria que os Bispos ordenassem só os que se sabem "chamados por Deus", por meio de algum sinal de vocação interior recebido. Mas tampouco é isso que Santo Afonso quer dizer. Santo Afonso, apesar de não se expressar claramente, quer dizer apenas que o Bispo não deve dar as Ordens para os que não são idôneos, esse sendo o sentido que busca dar à palavra "chamado".
Santo Afonso é acusado pelo autor de ter sido influenciado pelo rígido Habert (1668) em relação à teoria da predestinação a um estado de vida determinado. Santo Afonso teria se baseado numa opinião teológica bastante difundida em sua época. Essa opinião é fruto de uma confusão. Com base nos princípios corretos de que cada homem chega nesse mundo com seu destino fixo pelos planos eternos e de que é necessário se preocupar em fazer a vontade de Deus e de ser fiel à nossa destinação, conclui-se estranhamente que é necessário conhecer o que está nos decretos eternos antes de escolher um estado de vida.
Dessa tese rigorista decorre que: Deus tem um plano para a nossa vida que leva a um estado de vida determinado fora do qual se é um "desviado". Entrar num estado sem a ele ser chamado ou não entrar onde se é chamado são dois casos igualmente perigosos para a salvação eterna. Deus nos teria preparado apenas uma via pela qual seremos salvos e na qual nos são preparadas graças especiais que deveríamos receber.
Essa tese é atualmente condenada devido às seguintes razões: somos incapazes de conhecer os projetos divinos para nós (salvo revelação expressa); as vontades particulares de Deus nos são desconhecidas; a única conformidade possível com a vontade de Deus é sob a razão de bem em geral ("sub rationi boni"), e essa razão nos é conhecida pelas regras universais dos mandamentos divinos e os conselhos evangélicos, uns dizendo o que é prescrito, os outros o que é melhor e facultativo.
Por isso é que Santo Ambrósio já dizia: "Escolha o estado de vida que quiser e Deus lhe dará as graças próprias e convenientes a esse estado para que nele viva honesta e santamente6". E segundo Santo Tomás de Aquino, a Providência de Deus não impõe a ninguém (geralmente) um estado de vida determinado; mas ela dispõe tão bem os temperamentos e as inclinações dos homens que, junto com as livres escolhas feitas por cada um, se vê que a cada carreira humana se acha um número conveniente de livres-candidatos. Logo, pode-se tanto ser sacerdote, religioso, leigo celibatário ou leigo casado. Deus dará as graças convenientes a cada estado, não havendo "graças especiais" reservadas, ou "condenações implícitas" decorrentes da escolha de um estado de vida, contanto que a pessoa escolha o estado de vida com a intenção reta, sob os ditames da prudência natural e sobrenatural.
Da noção torta de vocação que temos atualmente decorrem diversos erros. As pessoas de temperamento mais frio, refratárias aos sopros de certa sensibilidade mística, embora sendo idôneos, não "se sentindo chamados", evitam o sacerdócio. Os entusiastas, propensos às ilusões, fazendo pouco caso das capacidades necessárias para o sacerdócio, ressaltam ainda mais o que consideram como voz interna e presunçosamente a exteriorizam aos outros. Citam o S. Cura d'Ars como exemplo, mas esquecem de dizer que houve apenas um S. Cura d'Ars na História da Igreja! Devemos imitá-lo na santidade, sem dúvida, mas não na sua incapacidade de estudo que Deus supriu de uma maneira singular e excepcional.
Outra conseqüência desastrosa da falsa noção de vocação é achar que o Seminário e o chamado do Bispo no dia da Ordenação são meras formalidades canônicas, apenas confirmam uma predestinação ao sacerdócio já presumida pelo candidato. Os que estão "certos" de terem uma vocação vivamente sentida, negligenciam seu aperfeiçoamento em vista do sacerdócio, enquanto que os bons são excluídos dos Seminários, por não ousarem serem padres...
Com as noções ensinadas pelo autor acerca da Vocação pode-se melhor compreender certas frases como: "S. João Bosco disse que de cada três meninos, ao menos um tem vocação". Isso não quer dizer que um terço dos meninos deve invariavelmente tornar-se sacerdote. Não. Isso quer apenas dizer que um terço dos meninos tem as condições mínimas para serem idôneos ao sacerdócio.
Há outros textos sobre vocação que oscilam entre a noção correta de Vocação Sacerdotal e a noção moderna, errada. Por exemplo, há um texto que lamenta os "que se sentem chamados mas não querem responder". Ora, o chamado no sentido estrito é o que o Bispo fala no Rito da Ordenação, logo não há "sentir" algum do candidato. O outro sentido, mais largo, é a idoneidade do candidato ao sacerdócio (também conhecido como "sinal de vocação") que se baseia numa análise objetiva de suas capacidades e também não envolve nenhum "sentir". Logo, vemos claramente como esse texto se desvia da compreensão correta da Vocação Sacerdotal.
No entanto, mais à frente, o texto indica corretamente alguns erros relativos à idéia de vocação como "Outros imaginam que faz falta ter escutado algum dia, uma pequena voz interior que lhes dizia: 'vem...!'", mas depois dá a entender a idéia de "predestinação a um estado de vida" quando diz: "é verdade que um homem que por sua culpa se põe fora do caminho que Deus o chama de maneira certa e insistente (porque há chamados mais insistentes que outros), este indivíduo se privaria de muitas graças e poria em risco a sua salvação".
Novamente volta a dizer a noção correta quando simplifica "O sábio teólogo Noldin diz: 'qualquer pessoa que tem a idoneidade e a intenção reta e aspira ao sacerdócio, pode apresentar-se ao Bispo'". Assim, o texto não trata com a mesma clareza sobre o tema tal como Pe. LAHITTON expõe em seu livro aprovado por S. Pio X.
Em suma, relato um resumo feito por um livro de Vocação Sacerdotal sobre a posição do Pe. LAHITTON: "A postura de LAHITTON tem evidentes consequências práticas: deixa claro que a vocação não é um sentimento interior, nem um desejo ou inclinação da pessoa pelo ministério, a vocação é uma chamada de Deus através da Igreja representada pelo Bispo. A chamada do Bispo é a vocação definitiva e o critério que este seguirá será comprovar as aptidões do candidato e a utilidade da diocese.7"
Esperamos que este artigo ajude a muitos, assim como nos ajudou a entender corretamente sobre esse tema atualmente tão mal compreendido e tão importante, de modo a não precisarem se lamentar tal como S. João Bosco em seu livro quando disse: "Se ao menos eu tivera alguém que cuidasse da minha vocação! Que grande tesouro ele seria para mim, mas eu não tinha esse tesouro. Eu tinha um bom confessor que buscou me fazer um bom Cristão, mas nunca buscou se envolver pela questão da minha vocação.8". Vemos que seu confessor considerando a vocação erroneamente como uma inspiração divina pessoal na qual não deveria se envolver, mas apenas Deus, não buscou analisar objetivamente a idoneidade de D. Bosco e levá-lo, após convite seu, a um Seminário para definitivamente ver se ele poderia ser ou não sacerdote.
Que isso não se repita e corramos o perigo de perder novos S. João Boscos por aí...
Nossa Senhora do Bom Conselho, rogai por nós!
Antonio Thatler

APÊNDICE
Apesar do livro não tratar diretamente sobre a vocação religiosa, podemos aproveitar alguns princípios e aplicá-los analogamente à vida religiosa. Deixo como adendo a seguinte citação de S. Tomás para os que têm medo da vida religiosa tal como se deve ter medo da vida episcopal:
"O estado de religião e o episcopado não têm a mesma natureza, por duas razões. - Primeiro, porque o estado episcopal preexige a perfeição da vida; o que o demonstra a interrogação feita pelo Senhor a Pedro, antes de lhe cometer o oficio pastoral, quando lhe perguntou se o amava mais que os outros. Ao passo que o estado de religião não preexige a perfeição, mas é uma via para a perfeição".(AQUINO, Santo Tomás. Suma Teológica: CLXXXV, I, IV)
NOTAS
1.      Tratarei da 7ª edição do livro, mais completa, embora possa-se ler a 1ª edição em: http://www.archive.org/details/MN5106ucmf_4
2.      Filipenses IV, 13
3.      S. Mateus XX, 8
4.      Recomendo ler o livro para aprofundar o conhecimento verdadeiro da Vocação Sacerdotal, hoje tão ignorado ou tão erroneamente compreendido.
5.      Cap. 1, "De Diligendo Deo", São Bernardo
6.      Cornelius a Lapide, in I Cor. VII, 7
7.      Pág. 21 , "Discernimiento Vocacional y derecho a la intimidad en el candidato al presbiterado diocesano", Federico Mantaras Ruiz-Berdejo , 2005
8.      Cap. 16, "Memoirs of the Oratory of Saint Francis de Sales from 1815 to 1855, THE AUTOBIOGRAPHY OF SAINT JOHN BOSCO", Traduzido por Daniel Lyons, SDB, 1989.

A Selva - Santo Afonso Maria de Ligório ( I )

Iniciaremos a publicação em série do livro "A Selva" de Santo Afonso Maria de Ligório sobre o Sacerdócio



PRIMEIRA PARTE: A Dignidade do Padre



I
Idéia da dignidade sacerdotal

Diz Sto. Inácio mártir que a dignidade sacerdotal tem a supremacia entre todas as dignidades criadas2. Santo Efrém exclama: “É um prodígio espantoso a dignidade do sacerdócio, é grande, imensa, infinita3. Segundo S. João Crisóstomo, o sacerdócio, embora se exerça na terra, deve ser contado no
número das coisas celestes4. Citando Sto. Agostinho, diz Bartolomeu Chassing que o sacerdote, alevantado acima de todos os poderes da terra e de todas as grandezas do Céu, só é inferior a Deus5. e Inocêncio III assegura que o sacerdote está colocado entre Deus e o homem; é inferior a Deus, mas maior
que o homem6. Segundo S. Dionísio, o sacerdócio é uma dignidade angélica, ou antes divina; por isso chama ao padre um homem divino7. Numa palavra, concluí Sto. Efrém, a dignidade sacerdotal sobreleva a tudo quanto se pode conceber8. Basta saber-se que, no dizer do próprio Jesus Cristo, os padres devem ser tratados como a sua pessoa: Quem vos escuta, a mim escuta; e quem vos despreza, a mim despreza9. Foi o que fez dizer ao autor da Obra imperfeita: Honrar o sacerdote de Cristo, é honrar o Cristo; e fazer injúria ao sacerdote
de Cristo, é fazê-la a Cristo”10. Considerando a dignidade dos sacerdotes, Maria d’Oignies beijava a terra em que eles punham os pés.

II
Importância das funções sacerdotais


Mede-se a dignidade do padre pelas altas funções que ele exerce. São os padres escolhidos por Deus, para tratarem na terra de todos os seus negócios e interesses; é uma classe inteiramente consagrada ao serviço do divino Mestre, diz S. Cirilo de Alexandria11. Também Sto. Ambrósio chama ao
ministério sacerdotal uma “profissão divina”12. O sacerdote é o ministro, que o próprio Deus  estabeleceu, como embaixador público de toda a Igreja junto dele, para o honrar, e obter da sua bondade as graças necessárias a todos os fiéis.
Não pode a Igreja inteira, sem os padres, prestar a Deus tanta honra, nem obter dele tantas graças, como um só padre que celebra uma missa.
Com efeito, sem os padres, não poderia a Igreja oferecer a Deus sacrifício mais honroso que o da vida de todos os homens: mas o que era a vida de todos os homens, comparada com a de Jesus Cristo, cujo sacrifício tem um valor infinito? O que são todos os homens diante de Deus senão um pouco de pó, ou antes um nada? Isaías diz: São como uma gota de água... e todas as nações são diante dele, como se não fossem13. Assim, o sacerdote que celebra uma missa rende a Deus uma honra infinitamente maior, sacrificando-lhe Jesus Cristo, do que se todos os homens, morrendo por ele, lhe fizessem o sacrifício das suas vidas. Mais ainda, por uma só missa, dá o sacerdote a Deus maior glória, do que lhe têm dado e hão de dar todos os anjos e santos do Paraíso, incluindo também a Virgem santíssima; porque não lhe podem dar um culto infinito, como o faz um sacerdote celebrando no altar. Além disso, o padre que celebra oferece a Deus um tributo de reconhecimento condigno da sua bondade infinita, por todas as graças que ele há
sempre concedido, mesmo aos bem-aventurados que estão no Céu. Este reconhecimento condigno nem todos os bem-aventurados juntos o poderiam prestar; de modo que, ainda sob este ponto de vista, a dignidade do padre está acima de todas as dignidades, sem exceptuar as do Céu. Mais, o padre é um embaixador enviado pelo universo inteiro, como intercessor junto de Deus, para obter as suas graças para todas as criaturas; assim fala S. João Crisóstomo14. Santo Efrém ajunta que o padre trata familiarmente
com Deus15. Para o padre, numa palavra, não há nenhuma porta fechada.
Jesus Cristo morreu para fazer um padre. Não era necessário que o Redentor morresse para salvar o mundo: uma gota de sangue, uma lágrima, uma prece lhe bastava para salvar todos os homens; porque, sendo esta
prece dum valor infinito, era suficiente para salvar, não um mundo, mas milhares de mundos.
Pelo contrário, foi necessária a morte de Jesus Cristo para fazer um padre: pois, doutro modo, — onde se encontraria a Vítima que os padres da lei nova oferecem hoje a Deus, Vítima santíssima, sem mancha, só por si suficiente para honrar a Deus duma maneira condigna de Deus? O sacrifício da vida de todos os anjos e de todos os homens não seria capaz, como acabamos de dizer, de prestar a Deus a honra infinita, que lhe presta um padre com uma só missa.


III
Excelência do poder sacerdotal


Mede-se também a dignidade do padre pelo poder que ele exerce sobre  o corpo real e o corpo místico de Jesus Cristo. Quanto ao corpo real, é de fé que no momento em que o padre consagra, o Verbo encarnado se obrigou a obedecer-lhe, vindo às suas mãos sob as espécies sacramentais. Causou espanto que Deus obedecesse a Josué, e mandasse ao sol que se detivesse à sua voz, quando ele disse: Sol! fica-te imóvel diante de Gabaon... E o sol deteve-se no meio do Céu16. Mas é muito maior prodígio que Deus, em obediência a poucas palavras do padre17, desça sobre o altar, ou a qualquer parte em que o sacerdote o chame, quantas vezes o chamar, e se ponha entre as suas mãos, embora esse sacerdote seja seu inimigo! Aí permanece inteiramente à disposição do padre, que pode transportá-lo à sua vontade dum lugar para outro, encerrá- lo no tabernáculo, expô-lo no altar, ou ministrá-lo aos outros. É o que exprime com admiração S. Lourenço Justiniano, falando dos padre: “Bem alto é o poder que lhes é dado! Quando querem, demudam o pão em corpo de Cristo: o Verbo encarnado desde do Céu e desce verdadeiramente à mesa do altar! É-lhes dado um poder que nunca foi outorgado aos anjos. Estes conservam-se junto do trono de Deus; os sacerdotes têm-no nas mãos, dão-no ao povo e eles próprios o comungam”18. Quando ao corpo místico de Jesus Cristo, que se compõe de todos os fiéis, tem o sacerdote o poder das chaves: pode livrar do inferno o pecador, torná-lo digno do Paraíso, e, de escravo do demônio, fazê-lo filho de Deus. O próprio Jesus Cristo se obrigou a estar pela sentença do padre, em recusar ou conceder o perdão, conforme o padre recusar ou dar a absolvição, contanto que o penitente seja digno dela. De modo que o juízo de Deus está na mão do padre, diz S. Máximo de Turim19. A sentença do padre precede, ajuda S. Pedro Damião, e Deus a subscreve20. Assim, conclui S. João Crisóstomo, o Senhor supremo do universo não faz senão seguir o seu servo, confirmando no Céu tudo quanto ele decide na terra21. Os padres, diz Sto. Inácio mártir, são os dispensadores das graças divinas e os consócios de Deus22. E, segundo S. Próspero, são a honra e as
colunas da Igreja, portas e porteiros do Céu23. Se Jesus Cristo descesse a uma igreja, e se sentasse num confessionário para administrar o sacramento da Penitência, ao mesmo tempo que um padre sentado no outro, o divino Redentor diria: Ego te absolvo o padre diria o mesmo: Ego te absolvo; e os penitentes ficariam igualmente absolvidos, tanto por um como pelo outro. Que honra para um súdito, se o seu rei lhe desse poder para livrar da prisão quem lhe aprouvesse! Mas muito maior é o poder dado pelo Pai Eterno a Jesus Cristo, e por Jesus Cristo aos padres, para livrarem do inferno, não só os corpos, mas até as almas; esta reflexão é de S. João Crisóstomo24.

IV
A dignidade do padre excede todas as dignidades criadas


A dignidade sacerdotal é pois neste mundo a mais alta de todas as dignidades, nota Sto. Ambrósio25. Ela excede, diz S. Bernardo, todas as dignidades dos imperadores e dos anjos26. Santo Ambrósio ajunta que a dignidade do padre sobreleva à dos reis como o ouro ao chumbo27. A razão disso, segundo S. João Crisóstomo, é que o poder dos reis só se estendem aos bens  temporais e aos corpos, ao passo que o dos padres abrange os bens espirituais e as almas28. Donde se conclui, em conformidade com o que fica exposto, que o poder ou a dignidade do padre é tão superior à dos príncipes como a alma ao corpo; era o que já tinha dito o Papa S. Clemente29. É uma glória para os reis da terra honrar os padres; é isso próprio dum bom príncipe, diz o Papa Marcelo30. Os reis, diz Pedro de Blois, apressam-se a dobrar o joelho diante do sacerdote, a beijar-te a mão, e a abaixar humildemente a cabeça para receberem a sua bênção31.
Reconhecem assim a superioridade do sacerdócio, diz S. João Crisóstomo32. Conta Barónio33 que Leôncio, bispo de Trípoli, tendo sido chamado à côrte pela imperatriz Eusébia, lhe mandara dizer que, se queria a visita dele, era necessário que primeiro aceitasse as seguintes condições: que à sua chegada a imperatriz desceria do seu trono, viria inclinar a cabeça sob as suas mãos, pedir-lhe e receber dele a bênção; depois ele se assentaria, e ela só o poderia fazer com permissão sua. Terminava por dizer-lhe que, a não se darem essas condições, jamais poria os pés na sua côrte. Convidado para a mesa do imperador Máximo, S. Martinho brindou primeiro o seu capelão e só depois o imperador34. No Concílio de Nicéia, quis Constantino Magno ocupar o último lugar, depois de todos os sacerdotes, num assento menos elevado; e ainda se não quis assentar sem permissão deles35. O santo rei Boleslau tinha pelos sacerdotes uma tal veneração que  não se assentava na presença deles. A dignidade sacerdotal ultrapassa até a dos anjos, razão por que também estes a veneram36. Velam os anjos da guarda pelas almas que lhe estão confiadas, de modo que, se elas se encontram em estado de pecado mortal, excitam-nas a recorrer aos sacerdotes, esperando que eles pronunciem a sentença de absolvição; assim fala S. Pedro Damião37. Se um moribundo pedir a assistência de S. Miguel, bem poderá, é verdade, este glorioso arcanjo expulsar os demônios que o cercarem, mas não quebrar-lhes as cadeias, se não vier um padre que o absolva. Acabando S. Francisco de Sales de conferir a ordem de presbítero a um digno clérigo, notou à saída que ele trocava algumas palavras   com outra pessoa, a quem queria ceder a passo. Interrogado pelo Santo, respondeu ao jovem sacerdote que o Senhor o tinha honrado com a presença visível do seu anjo da guarda. Este antes da sua elevação ao sacerdócio caminhava à sua direita e precedia-o, mas agora tomava a esquerda e recusava caminhar diante; por issoele se tinha ficado à porta, numa santa contenda com o anjo. S. Francisco de Assis dizia: “Se eu visse um padre, primeiro ajoelharia diante do padre, e depois diante do anjo38”.
Mais ainda, o poder do padre excede até o da santíssima Virgem; porque a Mãe de Deus pode pedir por uma alma e obter-lhe quanto quiser pelas suas súplicas, mas não pode absolvê-la da menor falta. Escutemos Inocêncio III: “Embora a santíssima Virgem esteja elevada acima dos apóstolos, não foi contudo a ela, mas a eles que o Senhor confiou as chaves do reino dos céus39”.
Por outro lado, S. Bernardino de Sena, dirigindo-se a Maria, diz igualmente que Deus elevou o sacerdócio acima dela40; e eis a razão que dá: Maria concebeu Jesus Cristo uma só vez; o padre pela consagração concebe-o, por assim dizer, quantas vezes quer; de modo que, se a pessoa do Redentor ainda não existisse no mundo, o padre, pronunciando as palavras das consagração, produziria realmente esta pessoa sublime do Homem-Deus.
Daqui esta bela exclamação de Sto. Agostinho: “Ó venerável dignidade a dos sacerdotes, entre cujas mãos o Filho de Deus encarna como encarnou no seio da Virgem!41”. Por isso S. Bernardo, entre muitos outros, chama aos padres pais de Jesus Cristo42. De fato, são causa da existência real da pessoa de Jesus Cristo na Hóstia consagrada. De certo modo, pode o padre dizer-se criador do seu Criador, porque pronunciando as palavras da consagração, cria Jesus Cristo sobre o altar, onde lhe dá o ser sacramental, e o produz como vítima para o oferecer a Pai Eterno. Para criar o mundo, Deus só disse uma palavra: Disse, e tudo foi feito43; do mesmo modo, basta que o sacerdote diga sobre o pão: Isto é o meu corpo; = Hoc est corpus meum; e eis que o pão deixou de ser pão: é o corpo de Jesus Cristo. S. Bernardino de Sena vê nesta maravilha um poder igual ao que criou o universo44. E Sto. Agostinho exclama de assombro: “Ó venerável e sagrado poder o das mãos do padre! Ó glorioso ministério! Aquele que me criou a mim, deu-me, se ouso dizê-lo, o poder de o criar a ele; e ele que me criou sem mim, criou-se a si por meio de mim!”45
Assim como a palavra de Deus criou o céu e a terra, assim também, diz S. Jerônimo, as palavras do padre criam Jesus Cristo46. Tão alta é a dignidade do padre que vai até abençoar sobre o altar o próprio Jesus, como Vítima para oferecer ao Padre eterno. Segundo nota o Pe. Mansi47, no sacrifício da Missa, Jesus Cristo é considerado como Sacrificador principal e como Vítima: como Sacrificador abençoa o padre; mas, como Vítima, é abençoado pelo padre.

V
O alto posto ocupado pelo padre

A excelência da dignidade sacerdotal mede-se também pelo alto posto que o padre ocupa. No sínodo de Chartres, celebrado em 1550, é chamado “a morada dos santos”48. Dá-se aos padres o título de vigários de Jesus Cristo, e assim os chama Sto. Agostinho, porque fazem as suas vezes na terra49. Tal é também a linguagem empregada por S. Carlos Borromeu no sínodo de Milão: Somos nós os embaixadores de Jesus Cristo; é Deus quem pela nossa boca vos exorta50. Foi o que o próprio Apóstolo declarou.Subindo ao Céu, o divino Redentor deixou os sacerdotes para serem na terra os mediadores entre Deus e os homens, particularmente ao altar, como diz S. Lourenço Justiniano: “Deve o padre aproximar-se do altar como o próprio Jesus Cristo”51. S. Cipriano diz: “O padre ocupa verdadeiramente o lugar e desempenha o ofício do Salvador52; e S. Crisóstomo: Quando virdes o sacerdote a oferecer o sacrifício, vêde a mão de Jesus Cristo estendida dum modo invisível”53.
Ocupa também o padre o lugar do Salvador, quando remite os pecados, dizendo: Ego te absolvo. O grande poder que o Pai eterno deu o seu divino Filho, comunica-o Jesus Cristo aos padres, De suo vestiens sacerdotes, segundoa expressão de Tertualiano. Para perdoar um pecado, é necessário o poder do Altíssimo, como a Igreja o faz ouvir nas suas orações54.
Tinham pois razão os judeus, quando, ao verem que Jesus Cristo perdoava os pecados ao paralítico, disseram: “Quem senão Deus pode perdoar os pecados?”55 Mas esta graça que só Deus pode fazer pela sua onipotência, o padre a pode também dispensar por estas palavras: Ego te absolvo a peccatis
tuis; porque a forma, ou, se o quiserem, as palavras da forma, pronunciadas pelo padre nos sacramentos, operam imediatamente o que significam. Qual seria o nosso espanto, se víssemos um homem que, mediante
algumas palavras, tinha a virtude de tornar branca a pele dum negro! O padre faz mais, quando diz: Eu te absolvo, — porque no mesmo instante demuda em amigo um inimigo de Deus, e um escravo do inferno num herdeiro do Céu.
O cardeal Hugues põe na boca do Senhor estas palavras, que representa dirigidas a um sacerdote ao absolver um pecador: Eu fiz o céu e a terra, mas dou-te o poder para fazeres uma criação mais nobre e melhor: duma alma manchada pelo pecado, faze uma alma nova (Faze uma alma nova, quer dizer, faze que uma alma pecadora e escrava de Lúcifer se torne minha filha). Mandei à terra que produza os seus frutos; dou-te um poder melhor, o de produzires frutos nas almas56.
Privada da graça, é a alma como uma árvore seca, que não pode produzir nenhum fruto; mas, recobrando a graça pelo ministério do padre, produz frutos de vida eterna. Santo Agostinho ajunta que a justificação dum pecador é uma obra maior que a de criar o céu e a terra57. O Senhor diz a Jó: Tendes vós um braço como o de Deus, e uma voz trovejante como a sua?58 Ora, quem é que tem um braço semelhante ao de Deus e como Deus faz trovejar a sua voz? É o padre que, dando a absolvição, se serve do braço e da voz do próprio Deus, para livrar do inferno as almas.
Lemos em Sto. Ambrósio que o padre, quando absolve, opera o mesmo que faz o Espírito Santo, quando justifica as almas59. Eis por que o divino Redentor, ao conferir aos padres o poder de absolver, lhes deu o seu Espírito: Soprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo: aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados, e a quem os retiverdes serlhes-ão retidos60. Deu-lhes o seu Espírito que santifica as almas, e estabeleceu-os cooperadores seus, conforme a expressão do Apóstolo61. E S. Gregório
ajunta: “Receberam o poder judicial supremo, para em nome de Deus remitirem ou reterem os pecados aos outros”62. Razão tem pois S. Clemente de chamar ao padre um Deus na terra63. Davi disse: Veio Deus à assembléia dos deuses64. Segundo a explicação de Sto. Agostinho, os deuses de que fala são os
sacerdotes65. E eis o que diz Inocêncio III: “Os padres se chamam deuses, por causa da dignidade do seu ofício”66.

VI
Conclusão

Mas, que horror ver, numa mesma pessoa, uma dignidade sublime e uma vida vergonhosa, uma profissão divina e obras de iniqüidade! Para longe de nós esta desordem, exclama Sto. Ambrósio; que as nossas obras estejam de acordo com o nosso nome!67 O que é uma alta dignidade num indigno, senão uma pérola caída na lama, pergunta Salviano?68. O Apóstolo nos adverte que ninguém deve ser tão audacioso que se
eleve ao sacerdócio, sem a vocação divina de Aarão, pois que nem Jesus Cristo se quis arrogar a honra do sacerdócio, mas esperou que seu Pai o chamasse a essa dignidade69. Aprendamos daqui quanto é alta a dignidade do padre; mas quanto mais alta é, mais devemos temê-la. “É grande a dignidade dos padres, diz S.
Jerônimo; mas também a sua ruína, se vierem a pecar. Regozijemo-nos com a nossa elevação, mas temamos de cair”70. S. Gregório exclama gemendo: “Purificados pelas mãos dos sacerdotes entram na pátria os eleitos; e os próprios padres se precipitam de cabeça para baixo nos suplícios do inferno!” 71 E ajunta: é o que acontece com a água batismal, que purifica do pecado os que a recebem, e os envia para o Céu, ao passo que ela cai e perde-se.


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1. Terrível verdade que a experiência de cada dia tristemente confirma!
2. Omnium apex est Sacerdotium (Epist. ad Smyrn.).
3. Miraculum est stupendum, magna, immensa, infinita Sacerdotii dignitas (De Sacerdotio
1.3).
4. Sacerdotium in terris peragitur, sed in rerum coelestium ordinem referendum est (De Sacerd.
1. 3.).
5. O Sacerdos Dei! si altitudinem coeli contemplaris, altior es; si omnium dominorum
sublimitatem, sublimior es; solo tuo Creatore inferior es (Catal. gloriae mundi, p. 4. cons. 6).
6. Inter Deum et hominem medius constitus; minor Deo, sed major homine (In Consecr. Pont.
s. 2).
7. Angelica, imo divina est dignitas. — Qui sacerdotem dixit, prorsus divinum insinuat virum
(De Eccl. Hier.).
8. Excedit omnem cogitationem donum dignitatis sacerdotalis (De Sacerdotio).
9. Qui vos audit, me audit; et qui vos spernit, me spernit (Luc. 10, 16).
10. Qui honorat sacerdotem Christi, honorat Christum; et qui injuriat sacerdotem Christi,
injuriat Christum (Hom. 17).
11. Genus divinis ministeriis mancipatum (De Adora. 1. 13).
12. Deifica professio (De dignit. sac. c. 3).
13. Quasi stilla situlae... pulvis exiguus; omnes gentes quasi non sint, sunt coram eo (Is. 40,
15-17).
14. Pro universo terrarum orbe legatus intercedit apud Deum (De Secerd. 1. 6).
15. Cum Deo familiariter agit (De Sacerdotio).
16. Obediente Domino voci hominis! — Sol, contra Gabaon ne movearis... Stetit itaque sol in
medio coeli (Jos. 10, 12).
17. Hoc est corpus meum.
18. Maxima illis est collata potestas! Ad eorum pene libitum, corpus Christi de panis
transsubstantiatur materia; descendit de coelo in carne Verbum, et altaris verissime reperitur
in mensa! Hoc illis praerogatur ex gratia, quod nusquam datum est angelis. Hi assistunt Deo;
illi contrectant manibus, tribuunt populis, et in se suscipiunt (Serm. de Euchar.).
19. Tanta ei (Petro) potestas attributa est judicandi, ut in arbitrio ejus poneretur coeleste
judicium (In Nat. B. Petri. hom. 3).
20. Praecedit Petri sententiam Redemptoris (Serm. 26).
21. Dominus sequitur servum; et quidquid hic in inferioribus judicaverit, hoc ille in supernis
comprobat (De Verbis Is. hom. 5).
22. In domo Dei, divinorum bonorum aeconomos, sociosque Dei, sacerdotes respicite (Ep.
ad Palyc.).
23. Ipsi sunt Ecclesiae decus, columnae firmissimae; ipsi januae, Civitatis aeternae, per quos
omnes ingrediuntur ad Christum; ipsi janitores, quibus claves datae sunt regni coelorum; ipsi
dispensatores regiae domus, quorum arbitrio dividuntur gradus singulorum (De Vita cont. 1.
2, c. 2).
24. Omne judicium a Filio illis traditum... Nam quasi in coelum translati, ad principatum istum
perducti sunt. Si cui rex hunc honorem detulerit, ut potestatem habeat quoscumque in carcerem
conjectos laxandi, beatus ille judicio omnium fuerit; at vero, qui tanto majorem a Deo accepit
potestatem, quanto animae corporibus praestant (De Sacerd. 1. 3).
25. Nihil in hoc saeculo excellentius (De dignit. sac. c. 3).
26. Praetulit vos, sacerdotes, regibus et imperatoribus; praetulit angelis (Serm. ad Pastor. in
syn.).
27. Longe erit inferius, quam si plumbum ad auri fulgorem compares (De dignit. sacer. c. 2).
28. Habent principes vinculi potestatem, verum corporum solum; sacerdotes vinculum etiam
animarum contingit (De Sacerd. 1. 3).
29. Quanto anima corpore praestantior est, tanto est sacerdotium regno excellentius (Constit.
apost. 1. 2, c. 34).
30. Boni principis est Dei sacerdotes honorare (Cap. Boni princ. dist. 96).
31. Reges flexis genibus offerunt ei munera, et deosculantur manum, ut ex ejus contactu
sanctificentur (Serm. 47).
32. Major est hic principatus quam regis; propterea rex caput submittit manui sacerdotis (De
Verbis Is. hom. 4).
33. Anno 325, n. 16.
34. Sulpicio Severo (Vit. S. Mart. c. 23).
35. Eusébio de César (Vit. Constant. 1. 3, c. 22).
36. Sacerdotium ipsi quoque angeli venerantur (Orat ad Naz.).
37. Licet assistant angeli, praesidentis (sacerdotis) imperium exspectantes, nullus tamen
eorum ligandi atque solvendi possidet potestatem (Serm. 26).
38. Opera Orac. 22.
39. Licet Beatissima Virgo excellentior fuerit Apostolis, non tamen illi, sed istis Dominus claves
egni coelorum commisit (Cap. Nova quaedam. De Paenit.).
40. Virgo benedicta, excusa me, qui non loquor contra te: sacerdotium ipse praetulit supra te
(T. 1. s. 20. a. 2. c. 7).
41. O veneranda sacerdotum dignitas, in quorum manibus, velut in utero Virginis, Filius Dei
incarnatur! (Molina, Instr. Sacerd. tr. 1, c. 5, § 2).
42. Parentes Christi (S. ad Past. in syn.).
43. Ipse dixit, et facta sunt (Ps. 32, 9).
44. Potestas sacerdotis est sicut potestas Personarum divinarum; quia, in panis
transsubstantione, tanta requiritur virtus, quanta in mundi creatione (Loco cit.).
45. O venerabiles sanctitudo manuum! O felix exercitium! Qui creavit me (si fas est dicere)
dedit mihi creare se; et qui creavit me sine me, ipse creavit se mediante me!
46. Ad nutum Domini, ex nihilo substiterunt excelsa coelorum vasta terrarum; ita parem
potentiam in spiritualibus sacerdotis verbis praebet virtus (Hom. de Corpore Chris.).
47. Biblioth. tr. 22, d. 12.
48. Locus sanctorum.
49. Vos estis Vicarii Christi, qui vicem ejus geritis (Ad Ft in er. s. 36)
50. Dei personam in terris gerentes. — Pro Christo legatione fungimur, tamquam Deo
exhortante per nos (2. Cor. 5, 20).
51. Accedat sacerdos ad altaris tribunal ut Christus (Serm. de Euc.).
52. Sacerdos vice Christi vere fungitur (Ep. ad Caeci).
53. Cum videris sacerdotem offerentem consideres Christi manum invisibiliter extensam (Ad
pop. Ant. hom. 60).
54. Deus, qui omnipotentiam tuam parcendo maxime et miserando manifestas (Dom. 10 post
Pent.).

55. Quis potest dimittere peccata, nisi solus Deus? (Luc. 5, 21)
56. Ego feci coelum et terram, verumtamen meliorem et nobiliorem creationem do tibi: fac
novam animam, quae est in peccato. Ego feci ut terra produceret fructus suos; do tibi meliorem
creationem, ut anima fructus suos producat.
57. Prorsus majus hoc esse dixerim, quam est coelum et terra, et quaecumque cernuntur in
coelo et in terra (In Jo tr. 72).
58. Et si habes brachium sicut Deus, e si voce simili tonas? (Job. 40, 2).
59. Manus Spitus Sancti, officium Sacerdotis.
60. Insufflavit, e dixit eis: Accipite Spiritum Sanctum: quorum remiseritis peccata, remittuntur
eis; et quorum retinueritis, retenta sunt (Jo 20, 22).
61. Dei enim sumus adjutores (1. Cor. 3, 9).
62. Principatum superni judicii sortiuntur, ut, vice Dei, quibusdam peccata retineant, quibusdam
relaxent (In Evang. hom. 26).
63. Post Deum, terrenus Deus (Const. apost. 1. 2, c. 26).
64. Deus stetit in synagoga deorum (Ps. 81, 1).
65. Dii excelsi, in quorum synagoga Deus deorum stare desiderat (Ad Fr. in er. s. 36).
66. Sacerdotes, propter officii dignitatem, Deorum nomine nuncupantur (Can. Cum ex injucto.
De Haeret).
67. Ne sit sublimis, et vita deformis; deifica professio, et illicita actio. Actio respondeat nomini
(De dignit. sac. c. 3).
68. Quid est dignitas in indigno, nisi ornamentum in luto? (Ad Eccl. cathol. 1.2.).
69. Nec quisquam sumit sibi honorem, sed qui vocatur a Deo, tamquam Aaron. Sic et Christus
non semetipsum clarificavit ut Pontifex fleret, sed qui locutus est ad eum; Filius meus es tu;
ego hodie genui te (Hebr. 5, 4)
70. Grandis dignitas sacerdotum, sed grandis ruina eorum, si peccant. Laetemur ad ascensum,
sed timeamus ad lapsum (In Eze. c. 44).
71. Ingrediuntur electi, sacerdotum manibus expiati, coelestem patriam; et sacerdotes ad
inferni supplicia festinant! — Et ipsa in cloacas descendit (In Evang. hom. 17).

Ladainha: JESUS CRISTO Sacerdote e Vítima (Português e Latim)


Ladainha de Jesus Cristo, Sacerdote e Vítima
Senhor, tende piedade de nós /      Senhor, tende piedade de nós
Cristo, tende piedade de nós   /      Cristo, tende piedade de nós
Senhor, tende piedade de nós /      Senhor, tende piedade de nós
Cristo, ouvi-nos       /      Cristo, ouvi-nos
Cristo, atendei-nos  /      Cristo, atendei-nos
Deus, Pai celestial, tende piedade de nós
Deus Filho, Redentor do mundo,
Espírito Santo que sois Deus,
Santíssima Trindade que sois um só Deus,
Jesus, Sacerdote e Vítima, tende piedade de nós
Jesus, Sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedec,
Jesus, Sacerdote a quem o Pai enviou a evangelizar os pobres,
Jesus, Sacerdote que na última Ceia instituístes o memorial do Vosso sacrifício,
Jesus, Sacerdote sempre vivo para interceder por nós,
Jesus, Pontífice a quem o Pai ungiu com a força do Espírito Santo,
Jesus, Pontífice tomado de entre os homens,
Jesus, Pontífice constituído em favor dos homens,
Jesus, Pontífice do nosso testemunho,
Jesus, Pontífice de maior glória que Moisés,
Jesus, Pontífice do autêntico Templo,
Jesus, Pontífice dos bens futuros,
Jesus, Pontífice inocente, imaculado e santo,
Jesus, Pontífice misericordioso e fiel,
Jesus, Pontífice consumido pelo zelo do Pai e das almas,
Jesus, Pontífice perfeito para sempre,
Jesus, Pontífice que entrastes nos céus derramando o Vosso próprio sangue,
Jesus, Pontífice que iniciaste um novo caminho em nosso favor,
Jesus, Pontífice que nos amastes e nos purificastes do pecado pelo Vosso sangue,
Jesus, Pontífice que Vos entregastes a Deus como oblação e vítima,
Jesus, Vítima dos Homens,
Jesus, Vítima santa e imaculada,
Jesus, Vítima indulgente,
Jesus, Vítima pacífica,
Jesus, Vítima de propiciação e digna de louvor,
Jesus, Vitima da reconciliação e da paz,
Jesus, Vítima na qual temos a fé e o acesso para Deus,
Jesus, Vítima que vive pelos séculos dos séculos,
Sede-nos propício, atendei-nos, Senhor
Sede-nos propício, livrai-nos, Senhor
Da busca temerária do ministério, livrai-nos, Senhor
Do pecado do sacrilégio,
Do espírito de incontinência,
De desejos desonestos,
De toda ignominiosa simonia,
Do abuso dos bens da Igreja,
Do amor do mundo e das suas vaidades,
Da indigna celebração dos Vossos Mistérios,
Pelo Vosso sacerdócio eterno,
Pela Vossa santa unção, pela qual o Pai Vos constituiu como Sumo Sacerdote,
Pelo Vosso espírito sacerdotal,
Por aquele ministério pelo qual glorificastes na terra a Deus Pai,
Pela cruenta imolação do Vosso corpo na cruz, realizada de uma vez para sempre,
Por aquele mesmo Sacrifício que se renova cada dia no altar,
Por aquele poder divino, que exerceis de maneira invisível por meio dos sacerdotes,
Para que Vos digneis conservar na santidade toda a Ordem Sacerdotal, Nós Vos rogamos, Senhor, ouvi-nos
Para que concedas ao teu povo pastores segundo o Vosso coração,
Para que os enchas de espírito sacerdotal,
Para que os lábios dos sacerdotes guardem a Vossa sabedoria,
Para que envieis operários para a Vossa messe,
Para que aumenteis o número de fiéis dispensadores dos Vossos mistérios,
Para que lhes façais perseverantes no ministério que lhes haveis confiado,
Para que lhes concedeis paciência no ministério, eficácia na ação e perseverança na oração,
Para que, por seu intermédio, se promova em toda a parte o culto do Santíssimo Sacramento,
Para que recebais no gozo eterno os que desempenharam o ministério,
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós, Senhor.
Cristo, Sacerdote eterno, ouvi-nos.
Cristo, Sumo e eterno Sacerdote, atendei-nos.
Oremos:
Ó Deus, Vós que cuidais e santificais a Vossa Igreja, por meio do Vosso Espírito, suscitai nela dispensadores fiéis e idôneos para os Santos Mistérios, para que por seu ministério e exemplo, o povo cristão, protegido por Vós, progrida no caminho da Salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
Ó Deus, que ordenastes aos Vossos discípulos, enquanto celebravam o culto e depois de terem jejuado, de separar Saulo e Barnabé para a obra a que os tinha destinado, assisti a vossa Igreja em oração, Vós que conheceis os nossos corações, e mostrai-nos aqueles que escolhestes para o ministério. Por Cristo Nosso Senhor,
R/. Amém

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Litaniae Jesus Christi Sacerdotis et Victimae
Kyrie, eleison ...... Kyrie, eleison
Christe, eleison ...... Christe, eleison
Kyrie, eleison ...... Kyrie, eleison
Christe, audi nos ...... Christe, audi nos
Christe, exaudi nos ...... Christe, exaudi nos
Pater de caelis, Deus, ...... miserere nobis
Fili, Redemptor mundi, Deus, ..... miserere nobis
Spiritus Sancte, Deus, ...... miserere nobis
Sancta Trinitas, unus Deus, ...... miserere nobis
Iesu, Sacerdos et Victima, ...... miserere nobis
Iesu, Sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedech, ..... miserere nobis
Iesu, Sacerdos quem misit Deus evangelizare pauperibus, .... miserere nobis
Iesu, Sacerdos qui in novissima cena formam sacrificii perennis instituisti, ..... miserere nobis
Iesu, Sacerdos semper vivens ad interpellandum pro nobis, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex quem Pater unxit Spiritu Sancto et virtute, .... miserere nobis
Iesu, Pontifex ex hominibus assumpte, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex pro hominibus constitute, .... miserere nobis
Iesu, Pontifex confessionis nostrae, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex amplioris prae Moysi gloriae, .... miserere nobis
Iesu, Pontifex tabernaculi veri, ... miserere nobis
Iesu, Pontifex futurorum bonorum, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex sancte, innocens et impollute, .... miserere nobis
Iesu, Pontifex fidelis et misericors, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex Dei et animarum zelo succense, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex in aeternum perfecte, ...... miserere nobis
Iesu, Pontifex qui per proprium sanguinem caelos penetrasti, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex qui nobis viam novam initiasti, ..... miserere nobis
Iesu, Pontifex qui dilexisti nos et lavisti nos a peccatis in sanguine tuo, ...... miserere nobis
Iesu, Pontifex qui tradidisti temetipsum Deo oblationem et hostiam, ....... miserere nobis
Iesu, Hostia Dei et hominum, ....... miserere nobis
Iesu, Hostia sancta et immaculata, ...... miserere nobis
Iesu, Hostia placabilis, ..... miserere nobis
Iesu, Hostia pacifica, ..... miserere nobis
Iesu, Hostia propitiationis et laudis, ..... miserere nobis
Iesu, Hostia reconciliationis et pacis, ..... miserere nobis
Iesu, Hostia in qua habemus fiduciam et accessum ad Deum, ..... miserere nobis
Iesu, Hostia vivens in saecula saeculorum, ...... miserere nobis
Propitius esto! ...... parce nobis, Iesu
Propitius esto! ..... exaudi nos, Iesu
A temerario in clerum ingressu, ..... libera nos, Iesu
A peccato sacrilegii, ..... libera nos, Iesu
A spiritu incontinentiae, ..... libera nos, Iesu
A turpi quaestu, ...... libera nos, Iesu
Ab omni simoniae labe, ...... libera nos, Iesu
Ab indigna opum ecclesiasticarum dispensatione, ...... libera nos, Iesu
Ab amore mundi eiusque vanitatum, ....... libera nos, Iesu
Ab indigna Mysteriorum tuorum celebratione, ....... libera nos, Iesu
Per aeternum sacerdotium tuum, ...... libera nos, Iesu
Per sanctam unctionem, qua a Deo Patre in sacerdotem constitutus es, ...... libera nos, Iesu
Per sacerdotalem spintum tuum, ...... libera nos, Iesu
Per ministerium illud, quo Patrem tuum super terram clarificasti, ...... libera nos,
Iesu Per cruentam tui ipsius immolationem semel in cruce factam, ...... libera nos, Iesu
Per illud idem sacrificium in altari quotidie renovatum, ...... libera nos, Iesu
Per divinam illam potestatem, quam in sacerdotibus tuis invisibiliter exerces, ...... libera nos, Iesu
Ut universum ordinem sacerdotalem in sancta religione conservare digneris, ...... Te rogamus, audi nos
Ut pastores secundum cor tuum populo tuo providere digneris, ..... Te rogamus, audi nos
Ut illos spiritus sacerdotii tui implere digneris, ..... Te rogamus, audi nos
Ut labia sacerdotum scientiam custodiant, ...... Te rogamus, audi nos
Ut in messem tuam operarios fideles mittere digneris, ..... Te rogamus, audi nos
Ut fideles mysteriorum tuorum dispensatores multiplicare digneris, ..... Te rogamus, audi nos
Ut eis perseverantem in tua voluntate famulatum tribuere digneris, ..... Te rogamus, audi nos
Ut eis in ministerio mansuetudinem, in actione sollertiam et in orationem constantia concedere digneris, ... Te rogamus, audi nos
Ut per eos sanctissimi Sacramenti cultum ubique promovere digneris, ...... Te rogamus, audi nos
Ut qui tibi bene ministraverunt, in gaudium tuum suscipere digneris, ...... Te rogamus, audi nos
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, ...... parce nobis, Domine
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, ...... exaudi nos, Domine
Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, ...... miserere nobis, Domine
Iesu, Sacerdos, ...... audi nos
Iesu, Sacerdos, ...... exaudi nos.
Oremus
Ecclesiae tuae, Deus, sanctificator et custos, suscita in ea per Spiritum tuum idoneos el fideles sanctorum mysteriorum dispensatores, ut eorum ministerio el exemplo christiana plebs in viam salutis te protegente dirigatur. Per Christum Dominum nostrum. Amen.
Deus, qui ministrantibus et ieiunantibus discipulis segregari iussisti Saulum et Barnabam in opus ad quod assumpseras eos, adesto nunc Ecclesiae tuae oranti, et tu, qui omnium corda nosti, ostende quos elegeris in ministerium. Per Christum Dominum nostrum. Amen.