segunda-feira, 21 de junho de 2010

OS SANTOS E OS ANJOS: BEATOS FRANCISCO E JACINTA MARTO


Carta Circular da Obra dos Santos Anjos, maio de 2000


FÁTIMA À LUZ DO ANJO
A 13 de Maio de 2000, o Papa João Paulo II em Fátima, beatificou os dois pastorinhos Francisco (11/7/1908-4/4/1919) e Jacinta Marto (11/3/1910-20/2/1920). Nesta reflexão não olharemos tanto para estas duas crianças, mas antes, para o papel do Anjo na sua vida. Vamos ver como DEUS, através do Anjo, as preparou para a vinda de Nossa Senhora, para a sua vocação e para a união com a Santíssima TRINDADE. O Anjo não está no centro da mensagem de Fátima, mas conduz-nos para lá. Ele levou os pastorinhos a aprofundar a sua fé em DEUS PAI, à entrega incondicional a CRISTO crucificado no sacrifício, à união de amor no ESPÍRITO SANTO através da Sagrada Eucaristia e à confiança total em Nossa Senhora.
A EDUCAÇÃO DOS PASTORINHOS ATRAVÉS DO SANTO ANJO
A educação destas crianças realizada, de um lado pelo Anjo, de outro lado pela MÃE de DEUS, é um apelo a cada um de nós, assim como à toda a Igreja, a levantarmos os olhos para DEUS. Isto para que, nas trevas que se adensam cada vez mais,a humanidade não perca o caminho para DEUS, mas alcance, através de todas as provações necessárias, a Casa do PAI.
AS PRIMEIRAS TRÊS APARIÇÕES SILENCIOSAS DO ANJO EM 1915
Tudo começa muito secretamente.
Nas suas Memórias, a Ir. Lúcia escreve: "Pelo que posso mais ou menos calcular, parece-me que foi em 1915 que se deu essa primeira aparição do que julgo ser o Anjo, que não ousou, por então, manifestar-se de todo. Pelo aspecto do tempo, penso que se deveram dar nos meses Abril até Outubro de 1915" ... "Na encosta do cabeço que fica voltada para o Sul, ao tempo de rezar o terço na companhia de três companheiras, de nome Teresa Matias, Maria Rosa Matias, sua irmã e Maria Justino, do lugar da Casa Velha, vi que sobre o arvoredo do vale que se estendia a nossos pés pairava uma como que nuvem, mais branca que neve, algo transparente, com forma humana. As minhas companheiras perguntaram-me o que era. Respondi que não sabia. Em dias diferentes, repetiu-se mais duas vezes. Esta aparição deixou-me no espírito uma certa impressão que não sei explicar. Pouco a pouco, essa impressão ia-se desvanecendo e creio que, se não são os factos que se lhe seguiram, com o tempo a viria a esquecer por completo" (Memórias da Irmã Lúcia, Coimbra 1990, 6ª edição, pág. 151).
Com a Ir. Lúcia aconteceu o que se dá hoje com a maioria dos cristãos, que, no fundo do coração, bem sabem que têm um Anjo que os acompanha. Uma vez adultos, depressa se esquecem deste "conhecimento" impalpável.
AS TRÊS APARIÇÕES DO ANJO EM 1916
A PRIMEIRA APARIÇÃO: EDUCAÇÃO À ORAÇÃO, ORIENTADA PARA O PAI
O planalto cársico de Fátima, abre-se por todos os lados em direcção ao céu, como uma taça de sacrifício. Esta terra é, na sua vastidão, como que um reflexo da amplitude do céu. Coberta de oliveiras nodosas, recorda a pátria do Senhor, a Galileia. Nessa terra, tão perto do céu, os três pastorinhos sentem-se á vontade, porque tudo lhes é querido, tanto a natureza viva como as restantes coisas. De repente aparece o Anjo. Ficam surpreendidos quando, anunciado por uma ventania, se aproxima sobre as oliveiras um jovem de uns 15 anos, mais branco do que a neve, sim, mais brilhante que um cristal atravessado pelos raios do sol e de uma grande beleza!
O Anjo faz cair no seu mundo infantil, uma luz de que nada suspeitavam. Este mundo em que vivem, abre-se à grandeza de DEUS. Assustadas pela aparição surpreendente, as crianças ouvem da boca do Anjo, as primeiras palavras que são como que um bálsamo suave: "Não temais. Sou o Anjo da Paz!" (pág. 62). O Anjo convida os pastorinhos: "Orai comigo!" Através da oração do Anjo, o homem deve chegar de novo, à entrega total a DEUS, perdida pela sua desobediência. Levadas por um movimento sobrenatural, as crianças imitam o Anjo, que se ajoelha por terra, curvando a fronte até ao chão. Como é profunda a oração que o Anjo pronuncia diante delas, unindo-as entre si e com ele e vão assim repetindo as suas palavras: "Meu DEUS, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam".
É a primeira coisa que os pastorinhos devem aprender: a fé. Esta, sustentada pela visão do Anjo, toma-se adoração, e orienta-se, com toda a força do corpo e da alma, em esperança para com DEUS, abraçando-O no amor, com todas essas mesmas forças. E a fé, como o Apocalipse a exige quando diz: "Aqui está a paciência e a fé dos Santos" (Ap 13,10). Só uma tal fé, vence tudo, e poderá salvar o mundo do entorpecimento do pecado.
Quando a fé se transforma em oração e entrega total a DEUS, o homem é, do mesmo modo que o Anjo, um instrumento dócil na mão de DEUS. DEUS não pode deixar de ouvir tal oração, por isso o Anjo diz no fim: "Orai assim. Os Corações de JESUS e MARIA estão atentos à voz das vossas súplicas!" (pág. 62). Depois do Anjo desaparecer, os pastorinhos ficaram envolvidos numa atmosfera sobrenatural, tão intensa, que quase não davam conta de si mesmos, e continuavam, como que escondidos em DEUS, repetindo sempre a mesma oração. Eles fazem a mesma experiência que os Anjos: "SÓ DEUS BASTA!"
A SEGUNDA APARIÇÃO DO ANJO: EDUCAÇÃO À REPARAÇÃO, ORIENTADA PARA O FILHO
A segunda aparição do Anjo, deu-se junto do poço no quintal dos pais de Lúcia, nos dias de maior calor por volta do meio-dia. De repente, viram o mesmo Anjo, junto deles. Chamou-os, enquanto estavam brincando. DEUS quer mais! Por isso lhes disse: "Que fazeis? Orai! Orai muito!" (pág. 62).
O Anjo vem avisá-los com insistência: "Os Corações de JESUS e MARIA têm sobre vós desígnios de misericórdia!" Na primeira aparição, o mesmo Anjo tinha de tal modo elevado até DEUS a oração das crianças, esta, como a dele, ficara fixa na Sua Face, despertando nos seus corações, a ânsia pelo céu.
A maior beleza de DEUS, é para nós, pobres pecadores, a SUA infinita Misericórdia para connosco, pobres ovelhas perdidas. Da contemplação desta beleza, nasce o desejo de desagravar a DEUS por todos os ultrajes e ofensas, a exemplo de JESUS crucificado. Por isso, a resposta dos crentes, que praticarem esta contemplação, será sempre a reparação. É a segunda coisa que o Anjo exige às crianças: "Oferecei constantemente ao ALTÍSSIMO orações e sacrifícios!" e quando perguntam como devem fazer sacrifícios, o Anjo responde: "De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores."
A nossa vida com DEUS, deve ser cada vez mais, uma união com ELE no sacrifício. Só assim, teremos paz em nós, e à nossa volta. É esta paz, que o Anjo promete às crianças, para a sua pátria. Se o Anjo de Portugal é ao mesmo tempo o Anjo da Paz, a missão de Fátima não pode deixar de ser, senão uma missão de paz para o mundo.
Na sua última frase, o Anjo diz, qual é o sacrifício que agrada mais a DEUS: "Sobretudo, aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar!" (Pág. 62). DEUS coloca a humildade da submissão, que só nos pode abrir de novo as portas do Céu, contra o punho fechado da criatura elevado ao Céu, expressando o "Não quero servir" de Lúcifer. Só no sofrimento, e passando pelo abismo das provações apocalípticas, a Igreja, e com ela a humanidade, encontrará de novo o caminho para DEUS. A vida heróica dos Beatos, Francisco e Jacinta, dá um testemunho eloquente do caminho de sofrimento que percorreram, em reparação da honra ultrajada de DEUS e pela conversão dos pecadores. E pela expiação de poucas almas fiéis, que muitos no mundo serão salvos.
Das palavras do Anjo na segunda aparição se diz o seguinte: "Gravaram-se em nosso espírito como uma luz que nos fazia compreender quem é DEUS, como nos amava e queria ser amado, o valor do sacrifício e como ele Lhe era agradável, como, por atenção a ele, convertia os pecadores" (pág. 153). A luz do próprio Anjo, não só transmite o conhecimento de DEUS e da verdade revelada, mas dá também força para sacrificar tudo, a fim de preparar o caminho para o Reino de DEUS. Tal como os pastorinhos, antes das aparições do Anjo, também nós vivemos, normalmente, conforme as circunstâncias da nossa vida: o nosso olhar não vai para além do nosso horizonte. Sabemos pouco ou nada da grandeza apocalíptica do tempo em que vivemos, mas quando DEUS nos concede uma ligação mais íntima com o Anjo, começamos a ver QUEM é DEUS e como Ele nos ama. Assim, espera igualmente de cada um de nós, uma resposta de amor, visto que o mundo, e até muitos dentro da Igreja, cada vez mais se esquecem d'ELE.
O olhar para o Anjo, abre-nos os olhos para o imenso mundo de DEUS. A espada de dor, abre-nos o coração, assim como abriu o Coração de MARIA, para que se revele o que ELE espera de cada um de nós. Fátima anuncia o mistério da Misericórdia do DEUS Juiz, à qual, os pastorinhos, se entregam cada vez mais, a partir desta segunda aparição, para transformar a justiça em amor misericordioso, atendendo aos pecadores em perigo da condenação eterna. 
A TERCEIRA APARIÇÃO:PREPARAÇÃO DOS PASTORINHOS PARA UMA VIDA DE AMOR ATRAVÉS DA UNIÃO EUCARÍSTICA,ORIENTADA PARA O ESPÍRITO SANTO.
A terceira vez, o Anjo aparece no outono de 1916 (em fins de Setembro ou em Outubro) na Loca do Cabeço.
O mistério central da fé cristã é apontado na terceira aparição como: "o remédio da imortalidade", a Sagrada Eucaristia. E o sol espiritual da nossa vida, à luz do qual nós mesmos seremos um dia luz, quando ELE, depois de todos os selos se abrirem, se precipitar sobre a terra (com a velocidade vertiginosa como no milagre do sol em Fátima), para consumar o mundo no fogo do amor. A adoração, a contemplação e a reparação, são caminhos que levam até DEUS, caminhos que têm em vista este último mistério de amor. Por isso, as crianças receberam a Sagrada Eucaristia. Não é um sacerdote, mas o Anjo que as prepara para a sua primeira Comunhão, a recebem da sua mão, na solidão da Loca do Cabeço.
Ir. Lúcia escreve: "Logo que aí chegámos, de joelhos, com os rostos em terra, começámos a repetir a oração do Anjo: "Meu DEUS, eu creio...". Não sei quantas vezes tínhamos repetido esta oração, quando vemos que sobre nós brilha uma luz desconhecida. Erguemo-nos para ver o que se passava e vemos o Anjo, tendo na mão esquerda um Cálix, sobre o qual está suspensa uma Hóstia, da qual caem algumas gotas de Sangue dentro do Cálix. O Anjo deixa suspenso no ar o Cálix, ajoelha-se junto de nós e faz-nos repetir três vezes: "SANTÍSSIMA TRINDADE, PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de JESUS CRISTO, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que ELE mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de MARIA, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores" (pág. 63).
No Santíssimo Sacramento, o PAI e o ESPÍRITO SANTO estão também necessariamente presentes, porque na união com o FILHO são UM só DEUS. Aqui se decide a vocação destas crianças: a morte reparadora que não demorará (Comunhão do Sangue) dos dois irmãos, e a missão de dar testemunho de Lúcia (Hóstia). A oração, pronunciada pelo Anjo, alude à missão da Igreja no fim dos tempos, essas crianças, de modo exemplar, vão à frente. E selada pela Comunhão reparadora: "Tomai e bebei o Corpo e Sangue de JESUS CRISTO, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso DEUS!' (pág. 63). E prostrando-se de novo em terra, repete outras três vezes a grande oração de reparação. Depois desaparece. Também, desta vez, a força sobrenatural é tão intensa que os pastorinhos imitam o Anjo. Lúcia escreve: "A força da presença de DEUS era tão intensa que nos absorvia e aniquilava quase por completo. Parecia até privar-nos do uso dos sentidos corporais por um grande espaço de tempo. Permanecíamos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras; e quando nos erguemos, vimos que era noite e, por isso, horas de virmos para casa" (pág. 63).
Ainda nos dias seguintes, são levados, por essa mesma presença misteriosa do sobrenatural, até nas acções mais simples do dia a dia. "A paz e a felicidade que sentíamos era grande, mas só íntima, completamente concentrada a alma em DEUS" (pág. 154). Como uma falena se aproxima da chama da vela que há-de queimá-la, assim o homem, pode precipitar-se na LUZ do amor de DEUS, lá, onde adoramos a Majestade de DEUS, unidos com o Anjo, a terra "está cheia da SUA glória"! Já na primeira aparição, nenhum pensou em falar. O silêncio impôs-se. Era tão íntima, que não era fácil pronunciar sobre ela, a menor palavra.
Na terceira aparição, a presença do sobrenatural, foi ainda muitíssimo mais intensa. "Por vários dias, nem mesmo o Francisco se atrevia a falar". A primeira coisa que depois dizia era: "Gosto muito de ver o Anjo; mas o pior é que, depois, não somos capazes de nada. Eu nem andar podia, não sei o que tinha!" (pág. 123).
Uma palavra do Anjo que Lúcia lhe transmitiu, tocou muito especialmente o coração do pequeno vidente: "Consolar a DEUS, tão horrivelmente ofendido pelos crimes dos homens" (pág. 123). Foi a sua vocação particular, até ao fim iminente da sua vida. Enquanto Jacinta, nesta hora sublime da graça, se tornou a grande intercessora pelos pecadores.
ORAÇÃO
PAI, FILHO, ESPÍRITO SANTO, dignai-Vos escutar a nossa prece.
Dai-nos a graça, de viver com intensidade, a mensagem que transmitiste aos três pastorinhos, na Cova da Iria. Ensinai-nos, a acolher o amor maternal de MARIA, a rezar o Terço cada dia e a colaborar na salvação de todos os homens. Deixai-nos, ser inflamados pelos Santos Anjos, para uma vida de oração, de penitência, de reparação, de amor à Igreja e ao Santo Padre. Ajudai-nos, a imitar os Pastorinhos, e a viver à sua semelhança, as virtudes e a santidade evangélicas. Amém.

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