Ave MARIA!

"No sexto mês, o Anjo Gabriel, foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um varão chamado José, da casa de David,e o nome da Virgem era Maria, Entrando onde Ela estava,disse-lhe: "Alegra-Te, cheia de graça, o Senhor está contigo!" (Lc. 1.26-28)

Ensina-nos João Duns Scoto, o Doutor da Imaculada: "Deus ama-Se a tal ponto dentro da SS.ma Trindade que procedeu do Amor do Pai e do Filho o Espírito Santo. Mas fora da família divina Deus também Se ama nos outros e até quer ser amado pelos outros de maneira digna d'Ele, isto é,de maneira suprema, condigna e infinitamente. Por isso prevê a união com aquela natureza que há-de amá-l'O dessa maneira suprema" (Lectura paris,III,d.7,q.4).

O PRIMADO DA ENCARNAÇÃO

Assim o plano divino para a Encarnação do Verbo é logicamente anterior ao decreto da criação e da própria Redenção. Ou melhor: Deus "resolve" criar todas as coisas em atenção à futura encarnação do Seu Filho, independente de haver ou não pecado para remir. Se este não houvesse sido cometido, o Verbo encarnaria numa carne impassível. Esta concepção põe em grande ênfase Cristo como cabeça suprema de tudo o que é criado, conforme nos ensina São Paulo: "Segundo a riqueza da Sua graça... Deus deu-nos a conhecer o mistério da Sua vontade: segundo o beneplácito que n'Ele de antemão estabelecera para se realizar na plenitude dos tempos: a de em Cristo encabeçar todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra" (Ef. 1,7-10).

Como jamais podemos separar a encarnação do Verbo d'Aquela que O iria conceber pela virtude do Espírito Santo, assim podemos afirmar que Maria está, desde sempre, presente na mente de Deus. Por isso a Igreja na sua Liturgia aplica-Lhe estas palavras do livro dos Provérbios: "O Senhor me criou, primícias de Sua obra, de Seus feitos mais antigos. Desde a eternidade fui estabelecida, desde o princípio, antes da origem da terra" (Prov. 8,22-23).

A criação foi chamada à existência por causa do Verbo que Se faria carne, pois "tudo foi criado por Ele e para Ele" (Col. 1,16); mas o pecado entrou na criação espiritual e na criação material pelo homem, e daqui surgiu um novo princípio para restaurar o principio da "Ordem da Criação", que foi perdido: é o princípio da Redenção! O Pai, em vez de desistir do Seu plano em relação à encarnação do Seu Verbo, ainda lhe aumentou a importância: o Filho Humanado não só será a cabeça da humanidade, mas também será o Seu Redentor.

O "SINAL" DA PROMESSA

Por isso, logo a seguir à queda dos nossos primeiros pais, antes de eles ouvirem da boca de Deus quais seriam as consequências do pecado para cada um deles,já escutaram a Divina Promessa da vitória do Salvador sobre a serpente, e a "mulher"é o grande sinal desde o início. "Disse o Senhor Deus à serpente: "Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te- á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar"" (Gen 1,3-15).

Desde então a misteriosa Mãe do Redentor é sempre o grande sinal anunciado pelos profetas como esperança para o povo israelita nos momentos mais escuros de sua história. Diz Isaías ao rei Acaz no momento da prova: "Pois sabei que o Senhor mesmo vos dará um sinal: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho e por-Lhe-á o nome de Emanuel" (Is.7,14). Mais tarde profetizara Miquéias: "Tu, Belém de Efrata, tão pequena para seres contada entre as famílias de Judá, mas é de ti que Me há-de sair Aquele que governará em Israel. As suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias de longínquo passado. Por isso Deus abandonará o Seu povo até ao tempo em que der à luz Aquela que há-de dar à luz" (Miq. 5,1-2).

Deus não Se esquece das Suas promessas. Deste modo, "ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o Seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei" (Gal .4,4). Maria é a criatura elegida e predestinada para realizar a Sua missão de Mãe de Deus, dignidade esta que A coloca muito acima de toda a humanidade e até dos próprios Anjos.

A SAUDAÇÃO ANGÉLICA

Ensina-nos Sto Tomás de Aquino: "Na antiguidade, a aparição dos Anjos aos homens constituía um acontecimento de grande valor e os homens tinham como uma honra inestimável poder manifestar aos Anjos a sua veneração. Assim a Escritura louva Abraão por ter dado aos Anjos hospedagem e de ter-lhes tratado com muita honra (Gn. 18,1 ss). Mas que um Anjo se inclinasse diante duma criatura humana, nunca se ouvir falar, até que o Arcanjo Gabriel expressou a sua veneração à Bem-Aventurada Virgem por estas palavras: "Ave..."

Se na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, a razão está na superioridade daquele em relação a este mesmo homem. Esta superioridade manifestava-se de três maneiras:

- O Anjo é superior ao homem em dignidade pelo facto da sua natureza espiritual e incorruptível (Sl. 103,4)

- O Anjo sobrepassa o homem pela sua familiaridade com Deus (Dn. 7,10)

- E o Anjo eleva-se acima do homem pela plenitude do esplendor da sua graça.

Não convinha, pois que o Anjo se inclinasse diante do homem, até ao dia em que apareceu a criatura humana que ultrapassa até os próprios Anjos pela Sua plenitude de graça, por Sua familiaridade com Deus e por Sua dignidade. Por reconhecer esta superioridade o Anjo manifesta-Lhe a sua veneração com a palavra "AVE" (Le Pater et l'Avé, Paris, Nouveile Editions Latines,1967, L'Avé Maria - Explicação da saudação do Anjo Gabriel,p. 159 e 163 - Doutor Comum, 2).

A saudação angélica é precisamente aquela que vem confirmar as antigas profecias. S. Lucas, no seu Evangelho, usa o termo grego "CHAIRE" que significa "Alegra-te" e que na Vulgata Latina São Jerônimo traduziu como "AVE". Verdadeiramente diziam os profetas: "Exulta, alegra-te, filha de Sião, porque eis que venho para morar no teu meio" (Zac. 2,14). "Rejubila, filha de Sião... Alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém... O Senhor, o rei de Israel, está no meio de ti" (Sof. 3,14-15).

A primeira palavra do Mensageiro de Deus alude às referências proféticas da "Filha de Sião" do Antigo Testamento: neste contexto o convite à alegria pela vinda do Messias recebe uma acentuação sumamente forte. O anúncio do Anjo não se pode situar num contexto duma saudação profana ou vulgar, mas trata-se realmente dum anúncio messiânico. O celeste enviado convida a Virgem à alegria messiânica, precisamente porque agora e n'Ela vão ter cumprimento as antigas profecias que durante séculos constituíram a grande esperança de Israel.

O NOME DE MARIA

Sabemos que Deus Se compraz com os antagonismos n'Ele os opostos e contradições se completam. Assim, o "Alegra-te!" de São Gabriel não está em desarmonia com o nome de Maria que em hebraico significa "AMARA AMARUM MARE", isto é, um "Mar Amargo"! Esta opinião adquiriu valor não só pela etimologia mas também pela realidade histórica que nos demonstra a amargura imensa de Maria. A sua vida foi um verdadeiro mar de amargura. Disso Ela já estava ciente quando da Anunciação, pois bem conhecia as profecias referentes ao "Messias Sofredor", ao "Servo do Senhor" (Is. 42,1-9; 49,1-6; 50,4-11; 52,13-53,12). Foi precisamente olhando para a Cruz que Ela pronunciou o Seu "Faça-se em Mim segundo a Vossa Palavra" (Lc. 1,38).

Contudo esta etimologia não é a única que nos qualifica a dignidade de Nossa Senhora. Em síro-caldaico o nome de MARIA significa "SENHORA". Realmente foi constituída Senhora do Universo desde o momento da Encarnação, já que é a Mãe do Rei dos reis e Senhor dos que dominam. Não só os escritores eclesiásticos e a liturgia A chamam de "Senhora", mas também na linguagem vulgar do povo A invoca como "NOSSA SENHORA".

Outros Doutores da Igreja afirmam que o nome de MARIA significa "ESTRELA DO MAR". Comenta assim Sto Tomás: "Porque só Ela conjurou a maldição, trouxe a benção e abriu a porta do paraíso, por este motivo tem o nome de "MARIA", que significa "Estrela do Mar"; como a estrela do mar orienta ao porto os navegantes, assim Maria dirige os cristãos à glória" (Sobre a Avé Maria, l.c., p. 185).

AS PROPRIEDADES DESTE NOME

Poderíamos perguntar-nos: quais são as propriedades do Nome de Maria? Por estar intimamente relacionado com o Deus Trino, poderíamos responder que são três:

a) Em relação ao ETERNO PAI o Seu Nome é Santíssimo. Foi o Pai quem deu este Nome à Sua Filha dilecta e conforme atesta o Evangelho apócrifo de S. Tiago do séc. I e Mateus do séc.VI. Este Nome supera todo o nome, exceto o de Jesus. É um Nome SS.mo em razão de quem O impôs e de quem o recebeu. Quando Deus dá um nome, esse caracteriza a parte essencial da pessoa que o traz. A própria Escritura atesta que "a pessoa é o que o seu nome indica" (1Sam. 25,25). Assim impôs a vontade de Deus este Nome para honrar a Mãe do Seu Verbo. Ao honrarem a pessoa estão a honrar simultaneamente o Seu Nome. Na verdade o fazem cada vez que alguém pronuncia amorosamente um "AVÉ MARIA".

b) Em relação ao FILHO o Seu Nome é de Misericórdia. Jesus Cristo pelas Suas cinco chagas derrama a Sua Misericórdia sobre todos os pecadores que querem arrepender-se. Assim o Nome de Maria, que é composto por cinco letras, obtém e concede misericórdia sobre toda a humanidade.

c) Em relação ao ESPÍRITO o Seu Nome é Dulcíssimo. Afirma um livro de piedade: "quando digo com devoção MARIA o céu se regozija, a terra se admira, o coração se dilata, foge a tristeza e aumenta a alegria, se recupera o ânimo e goza a alma de inefável doçura" (Meditando las Letanias, Dr. P. Pio Made Mondeganes OFM). Diz a Igreja na Antífona Mariana: "O Clemente, ó Piedosa, ó Doce sempre Virgem Maria".

A NOSSA TRÍPLICE RESPOSTA Se tais são as suas propriedades, quais serão os efeitos que têm de produzir em nós? Como resposta a este tríplice benefício Divino concedido através do Nome de Maria, nós poderemos ter três atitudes:

a) Em resposta à Santidade que o Pai pôs neste Nome, respondemos com a "REVERÊNCIA". Os Anjos pronunciam com reverência e respeito este Nome de Maria, como o fez S. Gabriel na Anunciação. Diz São Boaventura: "Todos os Anjos Lhe cantam no céu incessantemente: "Santa, Santa, Santa, Virgem e Mãe de Deus" (cfr. Psalm. Majus in Hymn. Ambros.) . "E todos os dias dizem milhões e milhões de vezes a saudação angélica: Avé Maria, prostrando-se na Sua presença e pedindo-Lhe a mercê de os honrar com alguma das Suas ordens" (T.V.D. n° 18 de S. Luis Montf.).

Quando os Anjos ouvem o Nome de Maria, reconhecem-n'A como Sua Rainha e Senhora. Os súbditos das cortes do mundo guardam o devido respeito ou ouvirem o nome de seus soberanos e até se descobrem e se inclinam com reverência. Nós, pronunciando ou ouvindo o nome de Maria, deveríamos manifestar externamente a nossa reverência, não deixando que as praxes cortesãs do mundo nos superem na nossa honra para com a nossa Rainha Celeste.

b) Em resposta à Misericórdia que o Filho pôs neste Nome, respondemos com "FORTALEZA". Pronunciando o Nome de Maria fogem todos os demónios e são vencidas as tentações que nos impedem a verdadeira conversão e arrependimento. Assim se fortalece a alma e são vencidos os obstáculos. O Nome de Maria dá energia, auxílio e fortaleza nos combates.

c) Em resposta à Doçura que o Espírito pôs neste Nome, respondemos com "GRATIDÃO CONSOLADORA". O Nome de Maria dá luz e alegria nas penas e enche o nosso coração de consolação e de esperança. Por isso, com o consolo que recebemos d'Ela, queremos consolá-la fazendo a devida reparação por aqueles que não A amam, apesar de tanto serem amados por Ela.

A melhor maneira de honrarmos o Nome de Maria é juntá-lo à saudação angélica, pois desta forma torna-Lhe presente o júbilo que sentiu por ser escolhida como instrumento para a realização das Divinas Promessas.

CONCLUSÃO

Para avaliarmos quanto Maria ama esta saudação, lembremos este facto: no seu convento, sempre que S. Bernardo passava por uma imagem de Maria, saudava-a: "Avé Maria!" "Avé Bernardo" foi a resposta que ele recebeu uma vez dessa imagem, querendo Nossa Senhora significar-lhe assim quanto Lhe agradava tal obséquio.

É que essa saudação, saída do coração, com amor ou com dor, atravessa as nuvens e sobe ao trono celeste da piedosa Mãe de Deus. Ao Nome de Maria, comovem-se os Anjos, comove-se o próprio Coração de Cristo, e até na terra as almas devotas encontram doçura e conforto.

Por isso, com todos os Anjos, Homens e com todo o Universo queremos dizer: AVÉ MARIA.

Fonte: www.opusangelorum.org/pt