sexta-feira, 22 de maio de 2015

Os padres da Igreja sobre o Espírito Santo (VI) - Santo Agostinho (Século IV-V)

As línguas de fogo prefiguravam a Santa Igreja 



Amanheceu para nós,irmãos, o dia venturoso, em que a santa Igreja brilha nos rostos de seus fiéis e arde em seus corações. Porque celebramos aquele dia em que Nosso Senhor Jesus Cristo, glorificado pela ascensão após sua ressurreição, enviou o Espírito Santo. Assim está realmente descrito no Evangelho: O que tenha sede, diz, venha a mim; o que crê em mim, que beba: de seu interior manarão rios de água viva. O explica em seguida o evangelista, dizendo: Dizia isto referindo-se ao Espírito que receberiam os que cressem nele. Mas ainda não tinha dado o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado. Restava, portanto, que uma vez glorificado Jesus após sua ressurreição dentre os mortos e sua ascenção ao céu, imediatamente se seguisse a doação do Espírito Santo enviado pelo mesmo que o tinha prometido. Como de fato aconteceu.

Na realidade, depois do Senhor ter convivido com seus discípulos, após sua ressurreição, durante quarenta dias, subiu ao céu, e, no dia quinquagésimo, que hoje celebramos, enviou o Espírito Santo, conforme está escrito: De repente, um ruído do céu, como um vento forte, ressoou em toda a casa; apareceram umas línguas de fogo, que se repartiram, pousando sobre cada um deles. E começaram a falar em línguas estrangeiras, cada um na língua que o Espírito lhe sugeria.

Aquele vento purificava os corações da palha carnal; aquele fogo consumia o feno da antiga concupiscência; aquelas línguas em que falavam os que estavam plenos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, mediante as línguas de todos os povos. Pois assim como depois do dilúvio a soberba impiedade dos homens edificou uma grandiosa torre contra o Senhor, ocasião na qual o gênero humano mereceu ser divido pela diversidade de línguas, de modo que cada nação falasse sua própria língua para não ser entendida pelas demais; assim a humilde piedade dos fiéis reduziu essa diversidade de línguas à unidade da Igreja; de maneira que aquilo que a discórdia tinha dispersado, o reunisse a caridade; e, assim, os membros dispersos do gênero humano, qual membros de um mesmo corpo, fosse reintegrados à unidade de uma única cabeça, que é Cristo, e fundidos na unidade do corpo santo mediante o fogo do amor.

Entretanto, deste dom do Espírito Santo estão totalmente excluídos os que odeiam a graça da paz e os que não mantêm a harmonia da unidade. E ainda que também eles se reúnam hoje solenemente, ainda que escutem estas leituras nas quais o Espírito Santo é prometido e enviado, as escutam para sua condenação, não para sua recompensa. De fato, de que lhes aproveita ouvir com os ouvidos o que rejeitam com o coração? De que lhes serve celebrar a festa daquele, cuja luz odeiam?

Em vez disso vós, meus irmãos, membros do corpo de Cristo, germens da unidade, filhos da paz, festejai este dia com alegria, celebrem-no com satisfação. Em vós se realiza o que se preanunciava nos dias da vinda do Espírito Santo. Assim como naquela ocasião os que recebiam o Espírito Santo, mesmo sendo um so homem, falava todas as línguas, assim também agora por todas as nações e em todas as línguas fala essa mesma unidade, radicados na qual possuís o Espírito Santo, mas com a condição de que não estejais separados por cisma algum da Igreja de Cristo, que fala todas as línguas.”

Santo Agostinho, Sermão 271

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