segunda-feira, 26 de julho de 2010

A ética católica do trabalho



 
Por Scott Hahn
 
 
 
Esse trabalho – humilde, monótono, pequeno – é oração plasmada em obras que te preparam para receber a graça do outro trabalho – grande, vasto e profundo – com que estás sonhando.(Caminho, n. 825)
 
 
 
Às vezes, a propaganda dá-nos agudas – e dolorosas – percepções da religiosidade popular. Certa vez, vi em uma revista um anúncio que proclamava: “Se o pecado original tivesse sido de preguiça, ainda estaríamos no paraíso”.
O publicitário pretendia fazer uma piada, é claro. Mas sabia que roçava um tema poderoso: a noção comum de que a vida ideal consistiria em um ininterrupto tempo de ociosidade e de que o trabalho está para as férias como a vida está para o céu. Nas palavras da canção popular, “todo o mundo trabalha pelo fim de semana”.
O reverso dessa noção é bem mais insidioso e ilude muita gente: a crença de que o trabalho é uma punição pelo pecado. Os que sustentam essa teoria costumam invocar a condenação divina de Adão depois do seu pecado: “Maldita seja a terra por tua causa! Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias da tua vida. Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra da qual foste tirado” (Gên 3, 17-19).
Esta passagem parece traçar um triste prognóstico de longo prazo para as condições do trabalho humano. E efetivamente retrata a fadiga do trabalho como uma punição pelo pecado. A punição, porém, não está no trabalho em si, mas nas duras condições que o tornam tedioso, frustrante e árduo.
O trabalho em si era uma das bênçãos originais de Deus. São Josemaria gostava de ressaltar que, “desde o começo da sua criação, o homem teve que trabalhar [...], antes de que o pecado e, como conseqüência dessa ofensa, a morte e as penalidades e misérias entrassem na humanidade (cfr. Rom 5, 12). Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo tão belo, ut operaretur et custodiret illum (Gên 2, 15), para que o trabalhasse e guardasse” (1).
Deus fez Adão porque não havia homem que cultivasse a terra (cfr. Gên 2, 5). Ou seja, havia uma vaga de emprego, uma descrição do cargo e uma tarefa a ser executada. O próprio Deus criou o candidato perfeito para esse posto. E devemos lembrar-nos de que tudo isso aconteceu quando o mundo ainda não conhecia o pecado nem a infelicidade. Deus fez o homem e a mulher para o trabalho; em conseqüência, eles não poderiam – e nós não podemos – encontrar a realização fora do trabalho.
Porém, mais ainda do que fazer o homem e a mulher por causa do trabalho, fez o trabalho por causa do homem e da mulher – porque era só através do trabalho que eles poderiam tornar-se verdadeiramente semelhantes a Deus. Isto não significa que eles possam merecer a graça da divinização por força do seu trabalho. A graça é um dom e, por isso, não pode ser merecida (2). Antes, é o próprio trabalho que é um dom e torna os homens e as mulheres cada vez mais parecidos com Deus.
Com efeito, o Gênesis representa o próprio Deus entregue ao trabalho ao criar o mundo: Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho (Gên 2, 2). Portanto, o trabalho é em si mesmo algo divino, algo em que o próprio Deus se ocupa; é assim uma atividade divinizante para aqueles que foram feitos à imagem e semelhança de Deus. Quando os seres humanos trabalham, imitam o seu Criador; compartilham a sua vida. Ele fez a terra do nada, mas quis que a criatura a trabalhasse e guardasse. Quis que os seus filhos terrenos conservassem os campos da família e se multiplicassem para assim viverem de modo mais perfeito à imagem do Pai celestial. Quis que o próprio trabalho pudesse tornar-se um ato de cooperação no ato criador, uma co-criação, feita por ambos, o Pai e os seus herdeiros.

TERMOS E CONDIÇÕES
Deus deu o trabalho à humanidade quando deu a vida a Adão, no tempo da inocência primitiva. O Gênesis conta-nos a história com o máximo laconismo, dando peso a cada palavra. Convém que nos detenhamos um pouco a examinar em que termos Deus nos confiou o trabalho.
O preceito de Deus a Adão de cultivar [o jardim] e guardá-lo exprime-se por meio de dois verbos hebraicos: ’abodah e shamar. Ambos são ricos e passíveis de um duplo sentido. Aparecem juntos em outros lugares da Bíblia – e sempre que isso acontece, é para descrever os deveres ministeriais dos levitas, antiga tribo sacerdotal de Israel (cfr. Núm 3, 7-8; 8, 26; 18, 5-6). O verbo ’abodah, freqüentemente traduzido por “servir”, tem no hebraico um duplo significado: pode designar “trabalho manual” ou “ministério sacerdotal” (enquanto “serviço ao culto”), ou pode sugerir os dois ao mesmo tempo. Já o verbo shamar significa “conservar” ou “guardar”, e descreve a proteção que os levitas deviam dispensar ao lugar sagrado, ao tabernáculo, que por eles era guardado e preservado da contaminação.
Muitos estudiosos das Escrituras acreditam que o autor do livro do Gênesis pretendeu sugerir tudo isso na história da criação de Adão. Deus fez Adão para que trabalhasse, e Deus o fez para que fosse um sacerdote do templo cósmico. Não eram atividades separadas. No começo, Adão desfrutava de unidade de vida: o seu trabalho estava ordenado para a adoração a Deus e era em si mesmo um ato de adoração. Até a divisão do tempo refletiu esse princípio de ordenação: Deus trabalhou seis dias e no sétimo descansou, santificando-o. Deus plasmou o ritmo sabático na própria estrutura da criação.
Nós trabalhamos para podermos adorar de modo mais perfeito. Adoramos enquanto trabalhamos. Quando os primeiros cristãos andaram à busca de uma palavra para descrever a sua adoração, escolheram leitourgía, uma palavra que, como a hebraica’abodah, podia indicar “adoração ritual”, mas também “serviço público”, como o trabalho dos varredores de rua ou dos homens que em outros tempos acendiam os lampiões de rua à noite. O significado é evidente para aqueles que conhecem as línguas bíblicas, estejam ou não familiarizados com a tradição litúrgica católica. O estudioso bíblico protestante inglês C.F.D. Moule explica bem a questão:
“A maneira surpreendente com que palavras «seculares» como leitourgein («prestar um serviço público») são aplicadas também ao «serviço divino» recorda-nos de modo muito salutar que, para uma pessoa verdadeiramente religiosa, adorar a Deus constitui toda a razão e finalidade do trabalho; e que, se distinguimos entre adoração e trabalho, é apenas por causa da fragilidade da natureza humana, que não pode fazer mais do que uma coisa de cada vez. A necessária alternância entre erguer mãos santas em oração e brandir com mãos fortes e dedicadas um machado para a glória de Deus é o sucedâneo humano para aquela vida divina una e simultânea em que o trabalho é adoração e a adoração é a atividade mais elevada possível. E a única palavra «liturgia» do Novo Testamento, tal como a ’abodah – «trabalho» e «serviço» – do Antigo Testamento, cobre os dois significados” (3).
Vemos uma vez mais que o trabalho é uma imagem terrena da atividade de Deus e, portanto, o trabalhador é uma imagem (e semelhança) de Deus. Como Deus é eterno, a sua atividade é simples e una. Nós, como vivemos no tempo, temos uma atividade diferenciada – e, com excessiva freqüência, dispersa. Porém, por compartilharmos a vida de Deus, as nossas próprias vidas começam a adquirir uma simplicidade, uma unidade entre trabalho e adoração.
No entanto, essa simplicidade muitas vezes confunde os cristãos de hoje, que tendem a pôr o trabalho e a oração em compartimentos separados e estanques. São Josemaria preveniu com freqüência sobre “a tentação [...] de levar uma vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas”. Teve palavras fortes para essa atitude: “Não, meus filhos! Não pode haver uma vida dupla [...]. Há uma única vida, feita de carne e espírito, e essa é que tem de ser – na alma e no corpo – santa e plena de Deus, desse Deus invisível que nós encontraremos nas coisas mais visíveis e materiais”.
E prosseguiu falando dessa vida unificada: “Por isso, posso afirmar que a nossa época precisa de devolver à matéria e às situações aparentemente mais vulgares o seu nobre e original sentido: pondo-as ao serviço do Reino de Deus” (4).

A PALAVRA EM AÇÃO
Nessa tarefa de restauração, Jesus Cristo foi, é claro, o primeiro. Muito simplesmente, Ele trabalhou. Os seus contemporâneos conheceram-no como um trabalhador bem capacitado, em grego um tekton, um artesão. A tradição diz-nos que o seu ofício foi o de carpinteiro. Os seus vizinhos maravilharam-se de que um trabalhador comum pudesse ter estudado as Escrituras, que tivesse adquirido sabedoria e ensinasse com a autoridade com que o fazia. “Não é ele o artesão?”, perguntavam (Mc 6, 3). E, em outro lugar, acrescentaram que era “o filho do carpinteiro” (Mt 13, 55).
Mas foi em uma referência ao seu Pai celestial que Cristo disse: “Meu Pai não cessa de trabalhar, e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Jesus estava sempre trabalhando e o seu trabalho era uma só coisa com a sua vida divina e com a sua divina adoração. Estava continuamente criando, redimindo e santificando o mundo, e sempre unido ao seu Pai no amor do Espírito Santo. Cada uma das ações da sua vida terrena era uma manifestação terrena dessa atividade celestial una, simples e eterna, ao mesmo tempo serena e dinâmica. Portanto, todas as coisas que fez foram redentoras – não apenas o seu sofrimento e morte na cruz. As horas que gastou na carpintaria tiveram um valor redentor, uma eficácia reparadora. Ofereceu o seu trabalho a Deus, e todos esses seus atos trabalharam para salvar o mundo.
Como carpinteiro e cabeça de família, Jesus viveu o sacerdócio que Deus concebera para Adão – e para todos nós, na terra. Nisto, como em todas as coisas, Ele é o nosso modelo. Mas é mais que isso. Pelo Batismo e pela Sagrada Comunhão, está unido a nós. Por isso, não o imitamos apenas, mas participamos da sua vida. Trabalha em nós e nós trabalhamos nEle. Oferecemos o nosso trabalho como uma oferenda sacerdotal, um sacrifício redentor, em benefício dos nossos familiares, vizinhos, colegas de trabalho e amigos. E com Cristo recriamos o mundo por meio dos nossos trabalhos e orações.
Não se trata apenas de uma pie in the sky [de um “castelo nas nuvens”]. Trata-se também da pie on the table [da “torta na mesa”], para a mãe que a preparou e ofereceu esse trabalho a Deus; da pie chart [do “diagrama de pizza”], nos slides que o corretor prepara para uma apresentação; do pi na equação (5), para a professora de geometria que prepara os seus planos de aula.
Tudo isso, se bem feito e oferecido a Deus, faz avançar a causa da criação divina e alcança a redenção do mundo. E realmente funciona!

NA TERRA COMO NO CÉU
É razoável perguntar: – Se Jesus restaurou o projeto original para o trabalho, por que o nosso trabalho atual ainda traz as marcas do pecado de Adão? Por que o nosso trabalho tem de ser feito à força de suor, de frustrações, de tédio e de malogros? Por que as minhas costas têm de doer no fim de cada dia de trabalho, quando soa o apito da fábrica?
Devemos notar que Jesus não esteve livre do sofrimento na sua própria vida terrena de trabalho. Os seus esforços foram custosos, como os nossos. Além de que Ele sofreu incompreensões, falsas acusações, a inveja de outros mestres e – no Calvário – uma aparente derrota.
É correto dizer, como os evangélicos protestantes, que Jesus pagou uma dívida que Ele não tinha porque nós tínhamos uma dívida que não podíamos pagar. Mas Cristo não foi meramente o nosso substituto. Se o tivesse sido, poderíamos perguntar, e com razão, por que ainda temos de carregar com o peso da punição pelo pecado de Adão: por que o nosso trabalho ainda tem de ser custoso? Como nosso substituto, Cristo deveria ter eliminado a necessidade do nosso sofrimento, certo?
Errado. Cristo não foi o nosso substituto, mas o nosso representante, e, como a sua paixão salvadora foi em nossa representação, não nos exime do sofrimento, mas confere ao nosso sofrimento uma força divina e um valor redentor. São Paulo disse:Eu, agora, alegro-me nos meus sofrimentos por vós e completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja (Col 1, 24). Que pode faltar ao sofrimento perfeito de Cristo? Somente aquilo que Ele quis que faltasse, porque desejava que fôssemos seus co-redentores, seus co-trabalhadores.
Jesus não erradicou o sofrimento, mas tornou-nos capazes de sofrer como Ele sofreu. Dotou o nosso sofrimento de poder divino e de valor redentor. E foi por isso que São Paulo pôde alegrar-se nos seus padecimentos por Cristo! Esta é a profunda fonte bíblica do gozoso espírito de mortificação que São Josemaria pregava, e que suscitou tantas incompreensões: “Abençoada seja a dor – escreveu –. Amada seja a dor. Santificada seja a dor... Glorificada seja a dor!” (6) Não dizia nenhuma tolice inane, como o faria se dissesse que “a dor é boa”; o que dizia é que, através da dor, podemos alcançar um grande bem nas nossas vidas, e, mais ainda, que Deus pode proporcionar-nos uma grande santidade por meio dela. Através da dor, podemos assemelhar-nos mais a Jesus Cristo nos seus sofrimentos.
Assim, o nosso trabalho é custoso, mas na realidade o seu custo não sobrepuja os seus benefícios, porque estes são concedidos por Deus todo-poderoso. E são benefícios que podemos aplicar não apenas em favor dos nossos familiares, mas de todas as pessoas das nossas relações e do mundo inteiro, pelos vivos e pelos mortos, pelo eterno descanso dos nossos antepassados e pela perseverança dos nossos descendentes na fé cristã. E podemos viver na alegre esperança de que todas essas pessoas virão igualmente a rezar e oferecer o seu trabalho por nós. O Credo chama a isto “comunhão dos santos”.

ABENÇOADO PELO SUCESSO?
Quando eu era ministro presbiteriano, orgulhava-me daquilo que os cientistas sociais designaram por “ética protestante do trabalho”. O sociólogo Max Weber cunhou essa frase para descrever uma determinada atitude que observou nos calvinistas. Eles trabalhavam arduamente e procuravam dar sempre o melhor de si no campo profissional. Não é que pensassem que com isso ganhavam um bilhete para o céu. Pelo contrário, acreditavam que todos na terra estavam predestinados ou para o céu ou para o inferno, mas achavam que o sucesso terreno era um sinal providencial do favor divino, de terem sido escolhidos, de estarem destinados ao céu. Weber estava certo, ao menos parcialmente, quando apontava essa ética como a força que movia o dínamo do capitalismo.
A ética protestante do trabalho não é um dogma cristão, mas apenas um fenômeno sociológico (embora, efetivamente, poderoso). Já o que vimos no livro do Gênesis é muito mais profundo do que qualquer tendência cultural e não é uma ética do trabalho, e sim algo mais completo e sólido. É uma verdadeira “teologia do trabalho”, uma metafísica do trabalho. Não é apenas a resposta coletiva de alguns fiéis ao Credo, e sim uma verdade inserida no próprio tecido da Criação.
Além disso, não depende do sucesso terreno. Como a Bem-aventurada Madre Teresa dizia com freqüência, Deus não nos pede que sejamos bem-sucedidos, mas apenas fiéis.
Fidelidade significa que tentaremos sempre fazer o melhor que pudermos. Mas isso não garante que venhamos a receber um aumento, ou a ser promovidos, ou a ganhar as eleições: poderemos até ter o salário diminuído, ser despedidos ou sofrer um acidente de trabalho. Mesmo assim, a teologia do trabalho é uma motivação mais poderosa que qualquer mera ética do trabalho: reivindica audaciosamente que o trabalho que realizamos nos pode levar para o céu – e também redimir muitas outras almas –, não por se tratar do nosso trabalho, mas por ser trabalho de Deus, opus Dei. Se o mundo nos considera um sucesso ou um fracasso, é coisa secundária; desejamos o sucesso unicamente para glorificar a Deus. O que é primordial é que trabalhemos com as mãos de Deus, com a mente de Cristo (cfr. 1 Cor 2, 16).
Santa Teresa de Ávila falou da assombrosa dignidade que Cristo nos conferiu ao fazer-nos seus colaboradores no trabalho:
“Cristo agora não tem outro corpo senão o vosso,
não tem outras mãos nem outros pés na terra senão os vossos.
Vossos são os olhos com que Ele olha
compassivamente para este mundo.
Vossos são os pés com que Ele caminha para fazer o bem.
Vossas são as mãos com que Ele abençoa o mundo inteiro” (7).

Jesus foi fiel até ao fim, e foi precisamente isso que constituiu o seu sucesso. Cumpriu a vontade de seu Pai e salvou o mundo com o sangue que marcou a sua “derrota”. E continua a operar as maravilhas da redenção através dos seus irmãos e irmãs, dos nossos êxitos e dos nossos malogros, de todo o trabalho que oferecemos com Ele a Deus nosso Pai.
Não é preciso dizer que deveríamos sempre trabalhar o melhor que pudermos, porque nada que esteja abaixo disso merece ser colocado no altar de Deus. Leiamos os profetas do Antigo Testamento e meditemos no que aconteceu quando os sacerdotes do Templo se tornaram preguiçosos ou gananciosos e começaram a oferecer a Deus animais defeituosos e com manchas, pois queriam guardar o melhor para si próprios. Nós corremos o risco de fazer o mesmo com o nosso tempo, com a nossa atenção e os nossos esforços. Semelhante egoísmo deu péssimos resultados para Israel e pode dar péssimos resultados também para nós. Se o nosso trabalho é culto a Deus, deve ser perfeito!
Uma última palavra: Jesus ensinou-nos, pela palavra e pelo exemplo, a trabalhar muito, mas não a idolatrar o trabalho ou o dinheiro que possamos ganhar trabalhando muito. Quando Deus fez o mundo, dividiu o tempo de tal modo que não pudéssemos esquecer a razão pela qual trabalhamos. Ele trabalhou seis dias para santificar o sétimo. Nós também devemos santificar o dia do Senhor. Os nossos seis dias de trabalho estão ordenados para um sétimo dia dedicado a uma adoração mais pura.
Deus fez-nos para esse descanso sabático, e os nossos corpos e o nosso trabalho deixam transparecer esse inteligente desígnio divino. É humano esperar ansiosamente pelo descanso sabático. É humano necessitar do Sabbath.
O exército dos Estados Unidos descobriu isso há muito tempo, na década de 1940, e pelo caminho árduo. Visando atingir quotas ambiciosas, o governo pediu às fábricas de munição que estendessem a semana de trabalho a sete dias de vinte e quatro horas. A maior parte das fábricas seguiu essa diretriz, mas algumas não. Curiosamente, as únicas fábricas que cumpriram as suas quotas foram aquelas que fecharam aos domingos. Os seus operários estavam mais descansados e por isso eram mais eficientes e sofriam menos acidentes de trabalho. Como Jesus sublinhou, o sábado foi feito para o homem (Mc 2, 27). Cumpre uma necessidade do corpo, da mente e do espírito. E também nesse sentido o homem foi feito para o sábado.
Uns anos depois de me ter feito católico, e uns anos depois de ter entrado no Opus Dei, pude assistir um dia à missa em memória do recém-declarado Beato Josemaria Escrivá. Vibrei ao ouvir a primeira leitura que a Igreja escolheu para essa Missa. Era do livro do Gênesis: O Senhor tomou o homem e o pôs no jardim do Éden para que o cultivasse e guardasse (Gên 2, 15).
 
NOTAS:
(1) São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 2ª ed., Quadrante, São Paulo, 2001, n. 57.
(2) A primeira graça, para o pecador, não pode ser merecida; no cristão em estado de graça, porém, os atos bons animados pelo amor (caridade) e feitos com a graça merecem o aumento da graça santificante e o prêmio da vida eterna (N. do T.).
(3) C.F.D. Moule, The Birth of the New Testament, Harper & Row, San Francisco, 1981, pág. 43.
(4) Questões atuais do cristianismo, n. 114.
(5) O número pi, em inglês, pronuncia-se como pie (N. do T.).
(6) Caminho, n. 208.
(7) “Oração de Santa Teresa”, adaptação musical de John Michael Talbot. In The John Michael Talbot Collection, Sparrow, 1995.

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