sábado, 24 de julho de 2010

O Véu de Manoppello





Está conservada na região italiana dos Abruzos, desde o século XVII, a “Verônica” romana, vera icona de Cristo, “não feito por mãos humanas”. Uma imagem que mostra o rosto de uma pessoa real.


Por  Lorenzo Bianchi
















A igreja de São Miguel Arcanjo, em Manoppello, edificada em 1630, que desde 1638 conserva o véu do Santo Rosto. Foi praticamente reconstruída na década de 1960; a fachada é desse período
      “No tempo de Júlio II, pontífice romano, por volta do ano do Senhor de 1506, [...] vivia em Manoppello, terra muito civilizada e bem situada, rica e opulenta de todas as coisas necessárias à vida humana, nos Abruzos Exteriores, província do reino de Nápoles, Giacom’Antonio Leonelli, físico doutor [...]. Estava um dia Giacom’Antonio Leonelli em praça pública, quase à porta da igreja matriz cujo título é o de São Nicolau de Bári, em honesta conversa com outros seus pares; bem em meio ao colóquio, chegou um peregrino que ninguém conhecia, de aspecto religioso e muito venerando, o qual, recebendo os cumprimentos de uma tão boa roda de cidadãos, disse com termos plenos de gentileza e humanidade ao doutor Giacom’Antonio Leonelli que tinha de lhe dizer em segredo uma coisa que muito lhe agradaria, por ser-lhe de utilidade e proveito. Puxando-o, assim, à parte, até o limiar da igreja de São Nicolau, entregou-lhe um pacotinho e, sem desembrulhá-lo, disse-lhe que tivesse em grande conta aquela devoção, pois receberia de Deus muitos favores e sempre prosperaria tanto nas coisas temporais quanto espirituais. Afastando-se, com o pacotinho nas mãos, até a fonte de água benta, Giacom’Antonio começou a abri-lo. Ao ver a Santíssima Imagem do Rosto de Cristo Nosso Senhor ficou, a princípio, um tanto assustado, prorrompendo em lágrimas sinceras, as quais depois refreou, para não aparecer assim a seus amigos. Dando graças a Deus por um dom tão grandioso, dobrou a imagem como estava antes, dirigiu-se em seguida ao peregrino desconhecido, para agradecer-lhe e acolhê-lo em sua casa, mas não o viu mais. Espantado, quase gaguejando, perguntou aos amigos, que lhe afirmaram tê-lo visto entrar com ele na igreja, mas não sair dela. Cheio de admiração, mandou procurá-lo diligentemente dentro e fora de Manoppello, mas não foi possível encontrá-lo, pelo que todos acreditaram que aquele homem sob o aspecto de peregrino deveria ser um anjo do Céu ou outro santo do Paraíso”. 

      É assim que a Relatione historica de padre Donato da Bomba, composta entre 1640 e 1646, conta, com tons evidentemente lendários, a chegada do Véu do Santo Rosto a Manoppello. Desse ponto em diante, o que a Relatione diz é historicamente comprovado: em 1618, Marzia Leonelli, filha e herdeira de Giacom’Antonio, vendeu o véu a Donat’Antonio de Fabritiis, que, por sua vez, doou-o em 1638 aos capuchinhos instalados em Manoppello. Em 1646, um ato notarial autenticaria a doação. O véu, muito danificado e desfiado, foi então limpo, recortado e arranjado numa moldura, como diz ainda a Relatione: “O próprio padre Clemente, tomando a tesoura, cortou todos aqueles farrapos ao redor e, purificando muito bem a Santíssima Imagem de toda a poeira, as traças e outras sujeiras, deixou-a como hoje se encontra. O acima referido Donat’Antonio, desejoso de gozar dessa Santíssima Imagem com maior devoção, mandou-a esticar num caixilho de madeira, com cristais de um lado e de outro, ornado com lavores em nogueira por um de nossos frades capuchinhos, chamado frei Remigio da Rapino (pois não confiava em outros mestres seculares)”. 
      A moldura e os vidros são os mesmos que até hoje compõem o ostensório que abriga o Véu do Santo Rosto, exposto num santuário nas imediações de Manoppello (município pertencente à província italiana de Pescara, mas à diocese de Chieti).
      
      Uma imagem única 
      As características do véu e da imagem que nele aparece são únicas. O véu, de 17, 5 por 24 centímetros (mas originariamente maior, como nos diz a Relatione, embora não saibamos quanto), é um trabalho de tecelagem finíssimo (ainda que sejam perceptíveis algumas imperfeições na trama), empregando fios de cerca de um milímetro e espaço entre um e outro de cerca de dois milímetros; parece ter cor dourado-escura, dependendo da perspectiva de visão e da iluminação, e é transparente. Em razão da cor e da transparência, há uma hipótese de que o tecido seja fabricado com bisso marinho, filamentos trabalhados de um molusco denominado Pinna nobilis. O bisso marinho é um tecido finíssimo, de brilho semelhante ao da seda, à qual se assemelha também pela sensação táctil, de uma leveza quase impalpável. A hipótese sobre o tecido foi feita em 2004 por Chiara Vigo, uma das últimas tecelãs a usar esse material, mas ainda espera por uma confirmação definitiva, que poderá ser obtida, se não por exame direto (que não é possível hoje, em razão da disposição do véu entre dois vidros), pelo menos por pesquisas morfológicas e estruturais a serem realizadas com instrumentação específica. 
      No véu está impresso um rosto de fronte alta, com cabelos compridos que chegam até os ombros, bigodes ralos e barba bipartida. Os olhos têm uma posição particular: estão ligeiramente voltados para o alto, mostrando o branco do globo ocular sob a pupila. O rosto não fica visível quando o véu é observado em transparência, mas apenas quando disposto sobre um fundo opaco; o que é singular é que a imagem aparece especularmente e com a mesma intensidade de cor tanto na frente quanto no verso. O véu aparentemente se comporta como uma película fotográfica positiva. O rosto é claramente assimétrico, com um lado mais inchado; há manchas evidentes, que poderiam ser interpretadas como sangue, em particular perto da boca e do nariz, que parece tumefato. As manchas são bidimensionais e não seguem o relevo do rosto. 
      

A – o rosto do Sudário de Turim;
B – sobreposição do rosto do véu de Manoppello ao rosto do Sudário de Turim;
C – o rosto do véu de Manoppello
(por Blandina Paschalis Schlömer)
      Pesquisas iconográficas e históricas 
      A tradição popular venerou o Santo Rosto de Manoppello por mais de quatrocentos anos, como uma relíquia, atribuindo-lhe o caráter de acheiropoietos (termo grego que significa “não feito pela mão humana”). Mas apenas nos últimos anos do século passado começaram a ser feitas pesquisas sobre esse objeto. Os resultados dessas pesquisas, relacionadas à história e à própria natureza da imagem do Santo Rosto, são até agora certamente muito parciais, mas também surpreendentes. 
      Nos estudos de irmã Blandina Paschalis Schlömer, pintora e estudiosa dos ícones, a pesquisadora defende uma relação muito estreita entre a imagem do Véu de Manoppello e o rosto impresso no Sudário de Turim (esta última imagem foi determinada pela oxidação das fibras de linho mais superficiais de que o lençol é composto; como todos sabem, as pesquisas científicas realizadas nos últimos cem anos não conseguiram ainda determinar a causa dessa oxidação). A relação seria tão estreita a ponto de permitir uma compatibilidade total, com uma série de pontos de contato, quando é feita a sobreposição do Santo Rosto com a face impressa no Sudário (para completar, há ainda plena compatibilidade desses dois objetos com as manchas de sangue que aparecem no Sudário de Oviedo). Ao mesmo tempo, existem duas diferenças fundamentais entre as duas imagens: em primeiro lugar, a imagem do Sudário de Turim apresenta os olhos fechados e um rosto de aparência mais rígida e ossuda, enquanto o Santo Rosto tem os olhos abertos e aparência mais relaxada; em segundo lugar, nem todas as feridas que aparecem no Sudário de Turim estão também no Santo Rosto, e as que aparecem têm dimensões geométricas menores e são um tanto mais esmaecidas. 
      A primeira consequência da observação dessa correspondência entre as duas imagens foi a reconsideração da história da transmissão iconográfica do rosto de Cristo, no Oriente e no Ocidente; além disso, permitiu identificar o percurso do Santo Rosto nos séculos anteriores a sua inesperada e misteriosa chegada a Manoppello. Em 31 de maio de 1999, o professor Heinrich Pfeiffer, jesuíta, um dos maiores especialistas em arte cristã (leciona História da Arte na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma), depois de anos de testes, comunicou o resultado de suas pesquisas na sede da Associação de Imprensa Estrangeira, em Roma; em resumo, dizia ter sido encontrada a verônica romana, a famosa imagem do rosto de Cristo acheiropoietos conhecida em Roma entre os séculos XII e XVII, época em que, conservada na Basílica Vaticana, era exposta periodicamente à veneração dos fiéis. Uma tradição antiga atribuía essa imagem ao episódio da mulher que teria enxugado com um lenço o rosto de Jesus durante a subida para o Calvário – essa mulher se chamaria Verônica, nome que podemos interpretar como a provável corrupção dos termos vera icona, “verdadeira imagem”. 
      

O ícone do Sancta Sanctorum da Basílica de Latrão, conhecido por fontes antigas como “acheropsita”. Do século VIII ao século XII, estaria coberto, segundo a hipótese de padre Heinrich Pfeiffer, pelo véu atualmente conservado em Manoppello, conhecido mais tarde em Roma como a “Verônica” (o “verdadeiro ícone”)

      “O Santo Rosto é a Verônica romana” 
      Padre Pfeiffer já escreveu nestas páginas sobre as razões da identificação do Santo Rosto com essa relíquia que, em certa época, foi mais famosa que o próprio Sudário de Turim (H. Pfeiffer, “Mas a ‘Verônica’ está em Manoppello”, in: 30Dias, nº 5, maio de 2000, pp. 78-79). Nesse artigo, afirmava, com argumentos mais que convincentes, que a Verônica – que nos é descrita por fontes medievais como um tecido finíssimo transparente, com uma imagem visível de ambos os lados – foi levada de Roma numa data imprecisa, no início do século XVII (outra hipótese, formulada por Saverio Gaeta com base em documentos de arquivo e considerações históricas, dataria esse episódio para um tempo mais antigo, o do Saque de Roma de 1527, o que, de qualquer forma, não muda substancialmente a questão). A Verônica teria reaparecido em Manoppello entre 1608 e 1618, de acordo com a documentação histórica local, depurada dos aspectos de lenda. 
      Apresentaremos um pequeno resumo de alguns dos dados fundamentais apresentados por Pfeiffer para justificar essa identificação. Em primeiro lugar, a Verônica que ainda se encontra em São Pedro, no Vaticano, já não mostra nenhuma imagem: os poucos estudiosos do passado que puderam observá-la de perto, como De Waal e Wilpert (lembremos que a tela presente em Roma não é exposta ao público desde o século XVII), viram nela apenas algumas manchas escuras; mesmo quem teve a oportunidade de observá-la recentemente (inclusive o pontífice João Paulo II) não encontrou nela vestígios de imagem. 
      Em segundo lugar, o tecido atualmente em Roma não é transparente de modo algum, enquanto o relicário de 1350 que continha a Verônica em Roma, ainda conservado no tesouro da Basílica Vaticana, é constituído por dois vidros de cristal de rocha e se destinava, evidentemente, a conter um objeto que pudesse ser exposto de ambos os lados. Esse relicário, de formato quadrado e dimensões compatíveis com o véu de Manoppello, do qual é pouco maior (e já vimos que o véu foi aparado), foi substituído mais tarde, primeiro pelo relicário usado em meados do século XVI (hoje perdido), depois pelo atual: um documento relata a solenidade da transposição da relíquia – ou melhor, como é nossa hipótese, da transposição do objeto falsificado que a substituiu –, ocorrida na data de 21 de março de 1606, para um nicho aberto na pilastra da cúpula precisamente chamada “da Verônica”. Como lemos num relato de Giacomo Grimaldi, então arquivista de São Pedro, datado de 1618, os vidros do relicário de 1350 estão quebrados: e um resíduo, considerado como vidro, pode ser notado ainda hoje pregado à borda inferior do véu de Manoppello. De modo semelhante ao que já dissemos a propósito das investigações sobre a natureza física do tecido com o qual é fabricado o véu, a impossibilidade atual de removê-lo do ostensório que o contém não permitiu ainda que os pesquisadores chegassem a uma certeza a respeito da identidade de materiais entre o desse fragmento de vidro e o que resta do relicário vaticano de 1350. 
      Em terceiro lugar, a Verônica de Roma apresentava um rosto com os olhos abertos, como vemos em todas as suas representações anteriores a 1616, enquanto a cópia feita naquele ano possui um rosto com os olhos fechados. Paulo V, pouco depois, vetaria qualquer outra cópia da relíquia, sob pena de excomunhão; Urbano VIII, em 1628, ordenou que todas as cópias existentes, feitas nos últimos anos, fossem destruídas. 
      
      O rosto de uma pessoa real 
      Mas padre Pfeiffer vai mais além com suas pesquisas, que nos permitem considerar extremamente provável que o Santo Rosto de Manoppello, ou seja, a Verônica romana, é um dos dois protótipos, ou modelos fundamentais, da imagem de Cristo. O segundo modelo é o Sudário de Turim. Padre Pfeiffer destaca particularmente que as maçãs do rosto das imagens clássicas de Cristo são quase sempre desiguais, como ocorre no Sudário de Turim e no Santo Rosto: a face, portanto, é assimétrica, contrariamente ao que vemos em todas as representações das divindades antigas, que apresentam um rosto ideal e simétrico. O Cristo clássico tem, portanto, um rosto pessoal e individual; e o modelo desse rosto, dada a sua estrutura fortemente assimétrica, é o Sudário de Turim, ou o Sudário de Turim somado ao Santo Rosto (provavelmente as duas relíquias devem ter circulado unidas por um certo período, como imagina Pfeiffer); no que diz respeito aos olhos e a todos os aspectos mais vitais, o único modelo é o Santo Rosto. 
      Logo, concluímos, trata-se de um rosto que de fato existiu, concreto, real; não de um modelo abstrato, tomado de empréstimo da iconografia de algum filósofo, como muitas vezes lemos ou ouvimos de historiadores da arte, cristianistas e até teólogos. O rosto de um homem de carne, não de uma ideia. 
      A pesquisa iconográfica leva ainda padre Pfeiffer a defender, no que é seguido por muitos outros especialistas, a identificação do Sudário de Turim com o Mandylion de Edessa, que era conhecido nessa cidade em 544, época do assédio dos persas, e seria transladado para Constantinopla em 944, onde desapareceria em 1204 para, mais tarde, ser encontrado no Ocidente. Da mesma forma, padre Pfeiffer propõe a identificação do Santo Rosto de Manoppello com a imagem do rosto de Cristo que se transferiu de Kamulia (Capadócia) para Constantinopla em 574, e aí desapareceu por volta de 705, durante o segundo reinado do imperador Justiniano II; esse tecido finíssimo, transparente, ao chegar a Roma, foi escondido (talvez pregado sobre o chamado ícone acheropsita do Sancta Sanctorum da Basílica de Latrão), recuperado no papado de Inocêncio III (1198-1216) e levado a São Pedro, com o nome de Verônica. 
      Padre Pfeiffer está firmemente convencido de que o Santo Rosto seja uma imagem acheiropoietos: “Tomando como ponto de partida a perfeita superposição do rosto do Sudário de Turim com o rosto de Manoppello, somos induzidos a admitir que a imagem no véu e a que vemos no Sudário tenham-se formado ao mesmo tempo. Ou seja, nos três dias que decorrem entre o sepultamento de Jesus e sua ressurreição, dentro do sepulcro. O Sudário de Manoppello e o de Turim são as duas únicas verdadeiras imagens do rosto de Cristo ditas acheropsitas, ou seja, não realizadas por mãos humanas” (H. Pfeiffer, in: P. Baglioni, “Bernini ou não, é uma obra-prima”, in: 30Dias, nº 9, setembro de 2004, pp. 56-65). 
      Existe algum indício físico que nos possa levar a considerar que, tal como a imagem do Santo Sudário não foi produzida artificialmente, o mesmo tenha-se dado com a imagem do Santo Rosto de Manoppello? 
      

O véu do Santo Rosto de Manoppello, dentro do relicário que atualmente o contém

      Pesquisas científicas em andamento 
      Entre 1998 e 1999, Donato Vittore, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Bári, fez algumas primeiras pesquisas de caráter científico sobre o Santo Rosto de Manoppello. O véu foi examinado com um escâner digital de alta resolução; o resultado divulgado por Vittore foi de que no espaço entre o fio da urdidura e o fio da trama não aparecem resíduos de cor. A ausência de depósito de cor lhe permitiu excluir a hipótese de que o Santo Rosto seja o resultado de uma pintura a óleo, como também não pode ser uma pintura a aquarela, uma vez que os contornos da imagem são muito evidentes nos olhos e na boca, não havendo aí pequeninos borrões no desenho, como ocorreria se o tecido tivesse sido empastado pela tintura. Aguardamos ainda uma publicação sistemática dessas pesquisas, mas o autor já as ilustrou, com a apresentação de diversas imagens em detalhe, em vários congressos, o último deles em Lecce, em março de 2007. 
      Se confirmada a hipótese de 2004 de que o tecido seja composto de bisso marinho, de fibras lisas e impermeáveis, teremos de considerar também que esse tipo de tecido, de fato, tecnicamente não pode ser pintado, uma vez que a cor tende a deslizar sobre ele, formando crostas, as quais não aparecem no Santo Rosto. Modificações da cor, por outro lado, poderiam ser obtidas num tecido como esse, por descoloração (mas, certamente, não resultando num desenho tão preciso como o que encontramos no véu de Manoppello). 
      Pesquisas em microscopia e espectroscopia foram realizadas mais tarde por Giulio Fanti, professor de Engenharia Mecânica e Térmica da Universidade de Pádua. A análise sob luz ultravioleta, com a lâmpada de Wood, confirmou um teste que já tinha sido realizado em 1971: nem o tecido nem a imagem do rosto mostram fluorescência considerável, como poderíamos esperar de substâncias de amálgama de cores, ao passo que uma fluorescência acentuada aparece nas partes em que há sinais evidentes de restauro, correspondentes aos cantos superiores direito e esquerdo. Todavia, resquícios de substâncias (pigmentos?) parecem presentes em outras partes do véu. A análise com luz infravermelha mostrou a ausência de um esboço prévio sob a imagem, e a falta de correções. Uma reconstituição das imagens em 3-D mostrou outros pontos de correspondência entre a imagem do véu e a do Sudário; em resumo, foi possível notar que, ao contrário do que parece, as duas imagens (anterior e posterior) do véu não são perfeitamente especulares: existem diferenças singulares entre a frente e o verso, difíceis de explicar em alguns detalhes, e de caráter tão sutil, que a ideia de podermos falar de uma pintura nesse caso é tecnicamente muito problemática. 
      No entanto, outras pesquisas científicas estão em andamento; esperamos que possam fornecer dados novos relativos a três problemas fundamentais: o primeiro, a relação precisa entre o véu e o Sudário; o segundo, o modo de formação da imagem no véu; o terceiro, se essa formação se deu em dois momentos, um para as manchas de sangue (se realmente são de sangue), outro para o rosto. A bidimensionalidade das supostas manchas hemáticas, que estariam desvinculadas do relevo do rosto, postularia dois momentos diferentes de impressão, exatamente o mesmo que as pesquisas demonstraram ter ocorrido no caso do Sudário de Turim. 
      Leiamos mais uma vez o Evangelho de João: esse véu poderia ser justamente, “o sudário”, que Pedro e João viram no sepulcro, “que cobrira a cabeça de Jesus”, e pareceu aos dois Apóstolos, “não estendido com os panos de linho no chão [ou seja, com o grande sudário], mas enrolado numa posição única” (Jo 20, 7). Em outras palavras, o sudário que ficou em posição destacada no lugar em que tinha sido posto, sobre os panos de linho e em contato direto com Jesus, cobrindo a região da cabeça e do rosto. E João, “viu e creu” (Jo 20, 8). 


Fonte: 30giorni

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