A segunda vinda de Cristo, Sua volta gloriosa, na companhia de Seus Anjos é o evento mais seguro de nossa história. A maior parte do futuro não podemos saber. Não sabemos quais povos ainda existirão no decorrer dos tempos, quais os poderes dominantes no mundo, quais doenças, catástrofes, avanços tecnológicos ainda surgirão, nem como será a situação da Igreja nos momentos particulares da historia. Mas uma coisa sabemos com certeza absoluta: No momento estabelecido pelo Pai, Cristo voltará para encerrar a história do mundo e julgar as nações.
Estabelecendo o tempo de Advento, a Igreja quer que nos preparemos para este evento decisivo de toda história. Este, além de ser preparação para a festa do Natal do Senhor, é também preparação para a Sua segunda vinda. E nesta carta queremos aprofundar um pouco mais sobre o sentido deste tempo de esperança e vigilância, tão cheio de expectativas.
O ADVENTO, UM TEMPO ESCURO
O Advento em si é um tempo bem obscuro. Recordamos as trevas que envolveram o mundo antes da vinda de Cristo. O pecado causou densas trevas que não quiseram aceitar a luz, pois a luz acaba com as trevas, é, por assim dizer, sua grande inimiga. Trevas e luz nunca podem existir simultaneamente no mesmo lugar. Por isso, ao levantar do sol, a noite deve fugir; ela deve sempre permanecer naquele lado do globo que não pode ser atingido pelos raios solares.
E DEUS DISSE: "FAÇA-SE LUZ!"
No entanto, toda criação saiu das mãos de Deus e foi feita na luz e para a luz: "E Deus disse: Faça-se a luz!" (Gn 1, 3). As trevas espirituais, entrando no mundo através do pecado, envolveram-no, provocando a necessidade de que o Pai falasse outra vez um "Faça-se a luz!", a fim de que a criação inteira e sobretudo os homens pudessem chegar novamente à luz. E o Pai atendeu esta necessidade de Sua obra, pois não quis aniquilar aquilo que havia feito. Por isso não fez outra criação, mas quis renovar aquilo que já havia criado, e, por isso, era necessária a colaboração das criaturas. Para esta finalidade escolheu Nossa Senhora e revelou-lhe, por meio de Seu Anjo, Seus planos. Com a resposta: "Faça-se em mim segundo a tua palavra", o " faça-se a luz" do Pai, pronunciado já no princípio, entrou na vida de Maria e, através dela, no mundo: "E a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Nela estava a vida e a vida era a luz dos homens". Como a criação começou com o "faça-se luz" de Deus, assim a restauração da criação começou com o "faça-se em mim segundo a tua palavra" de Nossa Senhora.
TAMBÉM NOSSO TEMPO, CHEIO DE TREVAS, PRECISA DA LUZ DE CRISTO
Também nossos dias estão cheios de trevas. As forças malignas do mundo continuam rejeitando a luz de Deus e, por isso, são necessárias almas marianas que, conforme o modelo de Nossa Senhora, se abram para a luz do alto dizendo também "faça-se em mim aquilo que Deus quiser". Desta forma receberão a Luz de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo. E é este o sentido do Advento: preparar-nos para acolher a luz de Cristo que já está chegando, para transmiti-la depois ao nosso ambiente, seja na família, na paróquia ou no trabalho. Cada um no seu lugar.
Deste ponto de vista a festa de Natal é realmente necessária para o nosso tempo. No mundo aumentam o pecado e as leis anticristãs e, por meio deles, as trevas. Experimentamos a palavra do profeta Isaías, dirigida a Jerusalém: "Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos" (Is 60, 2). Mas nesta noite devemos buscar e aguardar a luz do alto: Cristo. No Advento vivemos a tensão deste antagonismo: trevas - luz; somos chamados a fazer uma caminhada espiritual das trevas deste mundo em direção a Cristo, que virá como a luz do mundo. A este dinamismo da luz que está chegando, devemos expor a nossa alma.
NÓS SOMOS A LUZ DO NOSSO TEMPO
A própria natureza acompanha este ritmo do Advento: celebramos o Natal do Senhor no auge do verão, quando os dias são mais longos e as noites mais curtas. Parece que a criação, por meio de seu ritmo natural, nos alerta: "Acorde! A luz já chegou! Já é pleno dia!" Portanto, é preciso preparar-nos para acolhermos a luz do Senhor, a fim de que a glória do Senhor nos ilumine a tal ponto que nós mesmos nos tornemos luz, conforme a Palavra do Senhor: "Vós sois a luz do mundo" (Mt 5, 14). Por isso Ele convida a cada um de nós: "E você, faça-se luz!"
COMO PODEREMOS TORNAR-NOS LUZ? - O ANJO COMO MODELO
O Anjo poderá ajudar-nos com certeza, pois ele já é luz. Ele foi o primeiro a ser criado na luz. Mas quando Deus provou os Anjos, escondendo-Se diante deles, uma parte preferiu ficar na escuridão, na ausência de Deus, recusando-se a servir a um Deus escondido. Agindo assim, esta parte de anjos gerou em si as trevas e, por isso, Deus "separou a luz das trevas" (Gn 1, 4). Desde então há uma linha de separação intransitável entre Anjos bons e anjos maus, que chamamos demônios. Esta separação entre luz e trevas trouxe consigo que os Anjos bons não podem mais cair nas trevas, quer dizer: não podem mais pecar. De outro lado, os demônios nunca mais chegarão à luz e nunca mais farão nenhuma obra intrinsecamente boa. Tudo o que o demônio faz tem uma finalidade maligna e nos leva a um mal. Como a Mãe Gabriele nos diz que "nunca uma cruz é tua inimiga", podemos dizer também que "nunca o demônio é teu amigo".
AS DUAS GENEALOGIAS EM NÓS
Seduzidos pelo demônio, também os primeiros homens deixaram entrar as trevas que, através deles, se estenderam sobre todo gênero humano: "todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus" (Rm 3, 23). No entanto, no homem, Deus não separou imediatamente a luz e as trevas como havia feito entre os Anjos, mas o colocou numa condição de luta: "Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela" (Gn 3, 15). E não sofremos apenas uma luta contra a serpente, mas dentro de nós mesmos há uma oposição entre luz e trevas, entre o bem e o mal. Encontramos, por assim dizer, os vestígios de duas genealogias em nosso ser: a genealogia das trevas, isto é: a natureza lesada, inclinada ao egoísmo e ao pecado, que herdamos de nossos pais, de Adão e Eva; e a genealogia da Divina luz que recebemos no nosso Batismo por meio de Nossa Senhora, a medianeira de todas as graças. Há em nós, ao mesmo tempo, uma hereditariedade de Eva e de Maria. Somos filhos de Eva e filhos de Maria. Através de Eva nascemos neste mundo como escravos do pecado e do demônio e, através de Maria, nascemos na Igreja como filhos de Deus, filhos da luz, em Jesus Cristo.
ENTRAR NO DIÁLOGO DE MARIA COM O ANJO
As trevas entraram no mundo através de um diálogo da mulher com o anjo caído, que semeou a dúvida contra Deus na sua alma, levando-a assim até uma decidida desobediência contra Deus. A luz, por sua vez, entrou de maneira semelhante: foi através do diálogo do Arcanjo São Gabriel com Nossa Senhora que a levou a uma fé heróica e uma submissão total e incondicional sob à Vontade de Deus.
Portanto, aproveitemos este Advento para entrar no diálogo da Santíssima Virgem com o Anjo. Assim o nosso irmão celeste nos preparará também para acolhermos a luz de Cristo, que está chegando. Por isso convêm no Advento rezar com grande fervor e devoção a oração "o Anjo do Senhor". Outro meio muito eficaz que nos introduz neste diálogo do Anjo com a Santíssima Virgem Maria é a meditação do terço, sobretudo dos mistérios gozosos. Meditando estes mistérios, podemos entrar no dinamismo deste diálogo que nos leva diretamente ao mistério do Natal do próprio Cristo e as suas conseqüências para a nossa vida. Surge diante dos olhos de nosso coração o fruto deste diálogo, Jesus, e nos abrimos para acolhermos a Sua luz. O terço faz brotar em nosso coração a bela oração milenar da Igreja: "Vinde, Senhor Jesus!" e nos faz aguardar esta vinda com amor e ânsia.
AS BOAS OBRAS
Mas não basta apenas rezar. Precisamos também submeter-nos a uma purificação.
Um casal costumava tomar café perto de uma janela da qual se podia ver a varanda da vizinha onde secavam as roupas. E cada manhã a esposa se escandalizava com as roupas sujas da vizinha, dizendo: "Olha, as roupas dela, mesmo estando lavadas continuam tão sujas". Mas um dia isso mudou. Ela olhou para a varanda da vizinha e eis: as roupas estavam bem limpas. Admirada comentou o fato ao marido que apenas respondeu: "Ela não mudou nada, amor. Apenas lavei a nossa janela ontem à tarde."
Deste exemplo queremos tirar três propósitos para o Advento, que nos ajudarão a acolher melhor a luz de Cristo:
1. Queremos fazer uma boa limpeza de nossa casa e sobretudo de nossa alma, para que, através das janelas limpas a luz de Cristo possa iluminar todo nosso interior e exterior.
2. Não vamos queixar-nos das faltas dos outros, mas se as notarmos perguntemo-nos se não somos nós que estamos errados. Em todo caso, queremos evitar as reclamações negativas desnecessárias.
3. Queremos ajudar os outros, para que a sua vida também fique mais iluminada.
Fonte: Opus Angelorum
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