domingo, 26 de fevereiro de 2012

O fenômeno das conversões

Por Wendell Mendonça
Giotto, A conversão de São Francisco, Basílica de São Francisco em Assis, séc XIV

Estamos vivendo no Brasil o assim chamado "fenômeno das conversões", diversos católicos que abandonam a sua fé motivados por questões muito subjetivas e até mesmo individualistas que passam para as Igrejas "da moda". Primeiro veio o "momento universal", seguindo pelo "internacional", e agora o "mundial", quadrangular ou "sara nossa terra". 
Contudo, o que mais me impressiona é a rotatividade destas conversões parece que o mais importante é seguir o "pastor" da moda, aquele que tem mais unção, mais autoridade, mais poder. Assim, a fé se fundamenta nos acessórios e não no essencial. 
A verdadeira conversão, embora se dê no mais íntimo do ser, não é algo somente subjetivo e sujeito às próprias necessidades, mas é algo muito mais profundo e radical. A conversão quando verdadeira não é um "aceitar" ou "submeter-se", mas é algo muito mairo é um "render-se", isto é, não é uma ação intimista, emocionalista, mas uma realidade objetiva que se manifesta numa capacidade radical de aderir ao Mistério Revelado por Deus e à Sua pessoa Divina.
Li recentemente um comentário de um leigo num destes sites de relacionamentos que me impressionou:  "Acho interessante porque os católicos não frequentam nem as missas direito aos domingos, não participam de eventos na própria igreja, aí quando "mudam" de religião, tornam-se religiosos fervorosos, compromissados e etc. E não se dão contam que a sua fé era que era pouca..."

Depois deste comentário queria apresentar três grandes problemas, dentre tantos outros, destas atitudes religiosas.

1º As comunidades religiosas nas quais este fenômeno das conversões estão baseadas na chamada "Teologia da Prosperidade" que dogmatiza a benção de Deus como sendo igual a prosperidade e a riqueza numa distorção completa do Evangelho. Claro que Deus pode e abençoa o trabalho fazendo-o fecundo, mas a benção de Deus não se pode resumir a prosperidade, pelo contrário a benção de Deus é a conversão do coração para a vida simples, sem apegos mas dependente profundamente dele.
Se isso fosse verdade eu diria que todos os pobres seriam pessoas amaldiçoadas e que Deus nãos os ama. A fidelidade a Deus é muito mais que isso, e Deus não precisa responder a minha fidelidade, eu sou fiel a Deus por aquilo que Ele é e não por aquilo que Ele pode fazer por mim. 
Os grandes santos foram os que viveram a simplicidade da vida, muitas vezes na mais aguda pobreza, como viveram Clara e Francisco e mais no nosso tempo, Tereza de Calcutá. Vou dizer que não foram abençoados? 
Quando eu olho para a simplicidade da fé do nosso povo que sem ter nada dizem ter tudo, que quando alguém pergunta: "o que te falta?" eles respondem: "nada eu tenho tudo que preciso". Nestes eu consigo encontrar um verdadeiro coração convertido a Deus, pois não é que eles não precisam de nada, pelo contrário têm tudo que precisam! 
Assim vive um verdadeiro convertido sem necessitar de nada, mas tendo tudo: a felicidade de viver as coisas mais simples da vida e encontrar-se com Deus na sua vida cotidiana.

2º  Não são motivadas pelo princípio da unidade, mas da separação: Separam famílias, separam amigos, separam casais. Se tornam os "puros", os "separados" que não podem se "misturar" com as outras pessoas para não se contaminarem. Eu não creio numa Igreja que separa. Eu creio numa Igreja que une, não os puros, mas os pecadores que desejam se reconciliarem com Deus pelas águas regeneradoras do único Batismo em Cristo, e pelo sacramento da conversão que nos devolve a vida divina e conduz a Cristo Eucaristia, fonte e ápice da vida da Igreja, "remédio de imortalidade". A única criatura "toda pura" foi Maria e Ela que era tão pura acompanhou Jesus junto com qualquer outro, no meio da multidão, sendo comprimida por ela, mesmo sendo a mãe daquele que a multidão procurava. 
Essa é uma ideologia perigosa que faz com que a pessoas se distancie dos seus e crie "novos amigos", "nova família" dentro desta comunidade dos "puros". Assim a pessoa estará isenta de críticas e num ambiente todo propício para a proliferação de idéias e conceitos não muito ortodoxos. 
Na Igreja Católica também surgiram ao longo da história movimentos e atitudes assim que sempre foram corrigidas pelo magistério. Os católicos não podem se excluir da sociedade, pois o próprio evangelhos nos chama a ser "fermento na massa", "sal da terra" e "luz do mundo".

3º  Outro grande problema desta mentalidade existente nestas igrejas pentecostais é de ver a matéria, isto é, o objeto material como ruim. Caem num puritanismo complicado que vê o mal nas coisas e não na relação com elas.  Para estes religiosos o mal está no objeto e não na escolha da pessoa que fez o mal  uso dele. O mal não existe em si mesmo, só existe em relação com algum ser inteligente, somente através das nossas escolhas o mal entrou e continua a atuar no mundo. Quanto as coisas criadas, todas elas possuem o reflexo do criador que "viu que tudo era bom". Mesmo sabendo que a natureza sofreu e sofre as consequências do nosso pecado, em si a natureza só pode ser boa e todas as coisas confeccionadas pela mão do homem nunca podem portar o mal em si mesmas, mas somente em relação com o homem que a criou e a usa.

A Igreja Católica, fundada pelo próprio Cristo tem essa missão de "atrair todos a Ele" (cf. Jo 12,32) numa comunidade fé e na qual todos, pobres e ricos, santos e pecadores no único corpo místico de Cristo do qual Ele mesmo é a cabeça. A Igreja, esposa de Cristo é a mãe que acolhe a todos sem distinção e os conduz a Cristo, através dos instrumentos de salvação que Ele mesmo confiou e fundamentou na sua Paixão, Morte e Ressurreição.




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