Cúpula do Batistério da Catedral de Florença, Itália
"Foi Ele Quem me deu a verdadeira ciência de todas as coisas, a fim de conhecer a constituição do universo e a força dos elementos, o princípio, o fim e o meio dos tempos, a sucessão dos solstícios e as mudanças das estações, os ciclos dos anos e a posição dos astros, a natureza dos animais mansos, e os instintos dos animais ferozes, a força dos Espíritos e os pensamentos dos homens, a variedade das plantas e as propriedades das raízes. Aprendi tudo o que há escondido e não descoberto porque a Sabedoria, que tudo criou, mo ensinou!" (Sab. 7, 17-21)
A verdade de Deus é a Sua Sabedoria, que comanda toda a ordem da criação e governo do mundo (cfr. Sab. 12, 1-9). Mas esta Sabedoria Eterna Divina (cfr. Prov. 8, 22-31), que Se vai revelando ao longo do Antigo Testamento é totalmente esclarecida nos escritos do Novo Testamento. "O Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, no princípio, com Deus. Tudo começou a existir por meio d'Ele e, sem Ele nada foi criado" (Jo. 1, 1-3).
Deus por meio do Seu Verbo, em comunhão com o Espírito, do Qual professamos no Credo: "Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida", criou do nada o Céu e a Terra (cfr. S1. 113,15). Por isso só o Deus Uno e Trino pode dar o conhecimento verdadeiro de tudo quanto criou, na Sua relação com Ele (cfr. Sab. 7, 17-21; Cat. Ig. Cat. n° 216).
CRISTO RAZÃO DE SER DE TUDO
A grande chave desta revelação dos mistérios existentes no mundo da natureza, no ser humano, e do próprio mundo angélico, está no Filho de Deus, para que no-los revelar, encarnou-Se "e habitou entre nós" (Jo. 1,14). São Paulo escreve: "Ele (o Filho Humanado) é a imagem do Deus invisível. O Primogénito de toda a criação, porque n'Ele foram criadas todas as coisas, nos Céus e na Terra, as visíveis e as invisíveis, os Tronos, as Dominações, os Principados e as Potestades. Tudo foi criado por Ele e para Ele. Ele existe antes de todas as coisas e todas têm n'Ele a sua substância.
É-nos bem compreensível que graças à Redenção operada por Cristo, com tudo o que Ele ensinou, tem de ser realmente o centro da nossa história e o único que esclarece todo o mistério da vida humana. Com razão Cristo é a nossa cabeça: "Foi Ele que nos fez, a Ele pertencemos, somos o Seu povo, ovelhas do Seu rebanho" (Sl. 99, 3). Também foi a Sua Ressurreição vitoriosa que abriu a porta para a nossa própria ressurreição, bem como a glorificação de toda a criação (cfr. Rom. 8, 18-23).
Em relação aos Anjos, Cristo também é o seu centro. Primeiramente porque eles, criaturas invisíveis, representados neste texto paulino por quatro dos seus nove coros angélicos: "Tronos, Dominações, Principiados e Potestades", foram "criados por Ele e para Ele". Também "n'Ele os Anjos receberam a sua substância", isto é, o seu ser e a sua existência. Por isso aos Anjos podem-se aplicar as palavras: "São d'Ele e a Ele pertencem", só pelo facto de existirem.
Se tudo é Seu, não é de estranhar que o Deus Criador actue "em toda a acção das suas criaturas. É Ele a causa-primeira, que opera nas e pelas causas-segundas: "É Deus que produz em nós o querer e o operar, segundo o Seu beneplácito" (Filip. 2, 13; cfr. 1 Cor. 12, 6). Longe de diminuir a dignidade da criatura, (quer humana, quer angélica), esta verdade realça-a. Tirada "do nada" pelo poder, sabedoria e bondade de Deus, a criatura nada pode, separada da sua origem, porque "a criatura sem o Criador esvai-se" (GS 36, 3). Muito menos pode atingir o seu fim último, sem a ajuda da graça: "Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer" (Jo. 15, 5)" (Cat. Ig. Cat. n° 308).
JESUS, SENHOR DOS ANJOS
O Novo Catecismo expõe precisamente estes dois pontos da sua doutrina
CRISTO É O CENTRO DO MUNDO ANGÉLICO
"Cristo é o centro do mundo dos Anjos (angélico). Estes pertencem-Lhe (são Anjos d'Ele): "Quando o Filho do Homem vier na Sua glória, acompanhado por todos os Seus Anjos" (Mt. 25, 31). Pertencem-Lhe, porque criados por e para Ele: em vista d'Ele é que foram criados todos os seres, que há nos Céus e na Terra" (cfr. Col. 1, 16)" (Cat. Ig. Cat. n° 331).
SÃO SEUS MINISTROS
Em segundo lugar os Anjos são d'Ele, porque Cristo "os fez mensageiros do Seu plano salvador: "Não são eles todos Espíritos ao serviço de Deus, enviados a fim de exercerem um ministério a favor daqueles que hão-de herdar a salvação?" (Heb. 1, 14)" (Cat. Ig. Cat. n.° 331).
Por isso não é de estranhar que apareçam sempre ao longo de toda a História da Salvação, quer no Antigo Testamento, quer no Novo Testamento. "Ei-los desde a criação (cfr. Job. 38,7, passagem em que os Anjos são chamados 'filhos de Deus') (...) anunciando de longe ou de perto esta mesma salvação e postos ao serviço do plano divino da sua realização: eles fecham o paraíso terrestre (cfr. Gen. 3, 24); protegem Lot (cfr. GN. 19), salvam Agar e seu filho (cfr. Gn. 21,17), detêm a mão de Abraão (cfr. Gn. 22, 11); pelo seu ministério é comunicada a Lei (cfr. Act. 7, 53), são eles que conduzem o povo de Deus (cfr. Ex. 23,20-23), eles que anunciam nascimentos (cfr. Jz. 13) e vocações ( cfr. Jz. 6, 11-24; Is. 16, 6), eles que assistem aos profetas (cfr. 1 Re. 19, 5) - para não citar senão alguns exemplos. Finalmente, é o Anjo Gabriel que anuncia o nascimento do Precursor e do próprio Jesus (cfr. Lc. 1, 11ss)" (Cat. Ig. Cat. n° 332).
"Da Encarnação à Ascensão, a vida do Verbo Encarnado é rodeada da adoração e serviço dos Anjos. "Quando Deus introduziu no mundo o Seu Primogénito, disse: Adorem-n'O todos os Anjos de Deus" (Heb. 1, 6). O seu cântico de louvor, na altura do nascimento de Cristo, nunca deixou de se ouvir no louvor da Igreja: "Glória a Deus (...)" (Lc. 2, 14). Eles protegem a infância de Jesus (cfr. Mt. 1, 20; 2, 13.19), servem-n'O no deserto (cfr. Mc. 1, 12; Mt. 4, 11) e confortam-n'O na agonia (cfr. Lc. 22, 43), no momento em que por eles poderia ter sido salvo das mãos dos inimigos (cfr. Mt. 26, 53) como outrora Israel (cfr. 2 Mac. 10, 29-30; 11, 8). São ainda os Anjos os que "evangelizam" (cfr. Lc. 2, 10), anunciando a Boa Nova da Encarnação (cfr. Lc. 2, 8-14) e da Ressurreição (cfr. Mc. 16, 5-7) de Cristo. E estarão presentes, quando da segunda vinda de Cristo, que eles anunciam (cfr. Act. 1, 10-11), ao serviço do Seu Juízo (cfr. Mt. 13, 41;24, 31; Lc. 12, 8-9)" (Cat. Ig. Cat. n.° 333).
CRISTO ACIMA DE TODO O NOME
"Cristo morreu e voltou à vida para ser Senhor dos mortos e dos vivos" (Rom. 14,9). A ascensão de Cristo aos Céus significa a Sua participação, em Sua humanidade, no poder e autoridade do próprio Deus.
Jesus é Senhor: Ele possui todo o poder nos Céus e na Terra (cfr. Mt. 28, 18). Por isso o Pai "sentando-O, nos Céus, à Sua direita, acima de todo o Principado, Potestade, Virtude e Dominação e acima de todo o nome que se evoca, não só neste mundo como no futuro. Sob os Seus pés sujeitou todas as coisas" (Ef. 1, 20-22).
Nesta sujeição estão incluídos a terça parte (cfr. Ap. 12, 4) dos anjos rebeldes, que pecaram desde o início contra Deus e a Sua vontade. Toda a actividade apostólica de Cristo na Sua vida pública manifesta a sua Sabedoria, vencendo o demónio, o pecado e as suas consequências na natureza humana:
- Cristo cura o corpo das suas doenças: a sogra de Pedro (cfr. Lc. 5,38-39); o leproso (cfr. Lc. 5, 12-13); o homem da mão ressequida (cfr. Lc. 6, 6-11); a cura do servo do centurião (cfr. Lc. 7, 1-10); os dez leprosos (cfr. Lc. 17, 11-19); o paralítico de Betsaida (cfr. Jo. 5, 1-9); o cego de nascença (cfr. Jo. 9, lss), etc.
- Cura o pecado na alma humana: (cfr. Mc. 2, 5-12; Lc. 5, 17-25)
- Liberta os possessos do demónio: (cfr. Lc. 5, 41) tais como Madalena (cfr. Lc. 8,2); o homem da região dos gerasenos (cfr. Lc. 8, 26-39); o jovem possesso depois da Transfiguração (cfr. Lc. 9, 37-43), etc.
- Suscita a conversão dos pecadores: Levi (cfr. Lc. 5, 27-32); a pecadora pública (cfr. Lc. 7, 36-49); Zaqueu (cfr. Lc. 19, 1-10); a mulher adúltera (cfr. Jo. 8, 1-11).
- Ressuscita mortos: o filho da viúva de Naim (cfr. Lc. 7, 11-17); a filha de Jairo (cfr. Lc. 8, 40-42.49-56); de Lázaro (cfr. Jo. 11, lss).
- Jesus domina as forças da natureza: caminha sobre as águas (cfr. Jo. 6, 16-21); multiplica pães e peixes (cfr. Jo. 6, 5-13); acalma a tempestade (cfr. Mt. 8, 23-27), mandando sobre os ventos e o mar.
Na missão dos discípulos, Cristo transmitiu-lhes este mesmo poder, como sinal que o Reino de Deus estava no meio dos homens. Quando regressaram disseram a Jesus: "Senhor, até mesmo os demónios se nos sujeitaram em Teu Nome!". Disse-lhes Ele: "Eu via Satanás cair do Céu como um raio. Olhai que vos dei poder para pisar aos pés serpentes e escorpiões e domínio sobre todo o poderio do inimigo, e nada vos causaria dano. Contudo, não vos alegreis, porque os espíritos vos obedecem, alegrai-vos antes, por estarem os vossos nomes escritos nos Céus" (Lc. 10, 17-20).
Cristo pela Sua Ressurreição venceu o poder do Maligno e seu reino e desde então, aparecem sob os Seus pés (cfr. Ef. 2, 22) e é reconhecido como Senhor por todas as criaturas, conforme está escrito: "Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus todo o joelho se dobre nos Céus, na Terra e nos Infernos e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor para glória de Deus Pai" (Filip. 2, 9-11).
Apesar da derrota definitiva de Satanás só se realizar no final da história "quando entregar o Reino a Deus Pai, depois deter destruído todo o principado, toda a dominação e potestade. É necessário que Ele reine, até que haja posto todos os inimigos debaixo de Seus pés" (1 Cor. 15, 24-25), durante o tempo da Igreja os anjos caídos não podem utilizar o poder natural que lhes resta a seu bel-prazer. Ensina-nos São Paulo: "Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças. Pelo contrário, junto com a tentação, também vos dará meios para suportá-la, para que assim possais resistir-lhe" (1 Cor. 10, 13).
É inevitável que sejamos tentados ou provados pelo maligno, mas São Pedro ensina-nos qual a finalidade destas provações: a prova a que é submetida a nossa fé, toma-a "digna de louvor, de glória e de honra quando Jesus Cristo Se manifestar... Isto é para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, porque estais certos de obter, como prémio da vossa fé, a salvação das almas" (1 Pe. 1, 7-9).
Por isso os demónios, mesmo contra a sua vontade, são instrumentos da Providência Divina para a nossa salvação, pois Deus sabe sempre tirar de todo o mal o nosso bem.
OS SANTOS ANJOS MEMBROS DA IGREJA
A vida transbordante provinda da Ressurreição de Cristo, atravessa e conduz toda a história. Diz Santo Hipólito: "A vida derramou-se sobre todos os seres e todos são inundados duma grande luz, o Oriente dos orientes invade o universo e Aquele que era "antes da estrela da manhã" e antes dos astros, imortal e imenso, o grande Cristo, brilha mais que o Sol sobre todos os seres" (Páscoa 1-2)" (Cat. Ig. Cat. n.°1165).
Dentro da Igreja os Anjos têm Cristo como seu Senhor, como sua cabeça. "Ele é o princípio, o Primogénito dos mortos, pois devia ter em tudo a primazia. Porque foi do agrado de Deus que n'Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliados Consigo todas as criaturas, pacificando, pelo sangue da Sua cruz, tanto as da Terra como as dos Céus" (Col. 1, 18-20)
O Sangue de Cristo não só redimiu a humanidade, como também deu ao Pai aquela adoração, louvor e acção de graças que deveriam dar aquela terça parte dos anjos, se não tivessem caído.
Nos novos tempos, que são os da Igreja, enquanto aguarda a última vinda de Cristo Senhor, toda a vida desta mesma Igreja "beneficia da ajuda poderosa dos Anjos (cfr. Act. 5,18-20; 8,26-29; 10,3-8; 12,6-11; 27, 23-25). Na sua liturgia, a Igreja associa-se aos Anjos para adorar a Deus três vezes Santo ("Sanctus"); invoca a sua assistência (como na oração "Deus Todo -Poderoso, nós Vos suplicamos" do Cânon Romano; ou no responsório das exéquias: "Vinde ao seu encontro, Anjos do Senhor! Recebei a sua alma: levai-a à presença do Senhor!"), e festeja mais particularmente a memória de certos Anjos:
-29 de Setembro: S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael;
-2 de Outubro: os Santos Anjos da Guarda" (Cat. Ig. Cat. n° 334-335) e em Portugal no dia 10 de Junho temos a memória do Santo Anjo da Guarda de Portugal.
Eles, em nosso favor, participam da mediação única de Cristo. De modo algum a ofuscam ou diminuem, antes manifestam a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador, isto é, as graças que os Anjos nos dão da parte de Cristo - Cabeça comum de todas as criaturas - "deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a eficácia" (LG 60). "Efectivamente nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo Encarnado e Redentor; mas, assim como o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, e assim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde variadamente pelos seres criados, assim também a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas, cooperações diversas, que participam dessa fonte única" (LG 62)" (Cat. Ig. Cat. n.° 970).
ANJO E HOMEM UNIDOS NO TEMPO E NA ETERNIDADE
"Desde a infância (cfr. Mt. 18, 10) até à morte (cfr. Lc. 16,22), a vida humana é acompanhada pela assistência dos Santos Anjos (cfr. Sl. 34, 8; 91, 10-13) e intercessão (cfr. Job. 33, 23-24; Zac. 1, 12; Tob. 12, 12) "cada Fiel tem a seu lado um Anjo como protector e pastor para o guiar na vida (S. Basílio, C. Ecuménico III, 1: PG 29, 656 B). Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos Anjos e dos homens, unidos em Deus" (Cat. Ig. Cat. n.° 336).
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