quinta-feira, 8 de março de 2012

A mulher como membro do Corpo de Místico de Cristo

Fra Angelico, As mulheres procuram o corpo do Senhor, séc XV



Por Santa Tereza Bendita da Cruz (Edith Stein)



A posição da mulher na Igreja:

O propósito da formação religiosa consiste em fazer os jovens encontrem sua posição no Corpo místico de Cristo, o lugar que está preparado para eles desde a eternidade. Todos os que participam da redenção se tornam filhos da Igreja, e nisto não há diferenças entre os homens e as mulheres. A Igreja não só é a comunidade dos crentes, mas também o Corpo de místico de Cristo, quer dizer, um organismo no qual os indivíduos assumem o caráter de membro e de órgão, e por natureza os dons e um são diferentes dos dons do outro; por isso a mulher assim que tal tem uma posição particular orgânico na Igreja. Ela é chamada a personificar, no desenvolvimento mais alto e puro da sua essência, a mesma essência da Igreja, a ser seu símbolo. A formação das meninas e das jovens tem que dirigir para estes graus de pertença à Igreja.

A primeira condição necessária para entender esta função consistirá em saber com claridade qual é a essência da Igreja é. Para a razão humana é particularmente acessível o conceito de Igreja como a comunidade dos crentes. Quem acredita em Cristo e no seu Evangelho, quem espera as suas promessas, se une a Ele por amor e observa os seus mandamentos, se une na mais profunda unidade de pensamento e de amor com todos aqueles que têm a mesma convicção. Aqueles que viveram ao redor do Senhor durante a sua vida terrestre se tornaram o fundamento da grande comunidade Cristã: eles a propagaram, deixando como herança aos tempos próximos o tesouro da fé contida nela.

Se a sociedade humana natural é mais que um agrupamento simples de indivíduos e, como se pode verificar, esta se funde em um tipo de unidade orgânica, isto vale com mais razão para a sociedade sobrenatural que é a Igreja. A união da pessoa com Cristo é algo muito diferente da união entre pessoas humanas: é radicar-se nele e crescer nele (assim nos conta a parábola da videira e dos sarmentos); começa com o batismo e é afiançado sempre mais com os outros sacramentos, assumindo em cada indivíduo uma orientação diversa. Este real fazer-se um com Cristo comporta o transformar-se em membros uns dos outros para todos os cristãos. E a Igreja se torna o Corpo de Cristo deste modo. O Corpo é um corpo vivo, e o espírito que vivifica, é o Espírito de Cristo, que se transmite da Cabeça aos membros; o espírito que se difunde de Cristo é o Espírito Santo, por isso a Igreja é templo do Espírito Santo.

Apesar da unidade real, orgânica, entre a Cabeça e o corpo, a Igreja está em frente a Cristo como pessoa independente. Enquanto Filho do Pai eterno, Cristo vivia antes do tempo e de todos os seres humanos. Com a criação a humanidade começou a viver antes que Cristo assumisse a natureza e entrasse nela. E quando entrou, levou consigo sua vida divina. Com a redenção a fez receptiva e a encheu de graça: a gerou de novo.A Igreja é a humanidade novamente gerada, redimida por Cristo. A primeira célula da humanidade redimida é María: ela foi a primeira na que atuou a pureza e a santidade de Cristo, a plenitude do Espírito Santo. Antes de que o Filho do homem nascesse desta Virgem, o Filho de Deus criou esta virgem cheia de graça, e nela e com ela criou a Igreja. Por isso Maria, enquanto criatura nova, está ao seu lado, embora está indissoluvelmente ligada a ele.

E deste modo cada alma, purificada pelo batismo e elevada ao estado de graça, é gerada por Cristo e dada à luz por Cristo. Mas é gerada na Igreja e dado à luz por meio da Igreja. Na realidade, é por meio dos órgãos da Igreja que o todo novo membro é formado e repleto de vida divina. Por isso a Igreja é a mãe de todos os redimidos. Mas o é por sua união íntima com Cristo: ela é a sponsa Christi, que está ao seu lado e colabora com Ele em sua obra, na redenção da humanidade.

Órgão essencial nesta maternidade sobrenatural da Igreja é a mulher, fundamentalmente com sua maternidade corporal. De forma que para que a Igreja alcance sua perfeição, ligada ao alcance do número estabelecido de membros, a humanidade tem que continuar crescendo. A vida da graça pressupõe a vida natural. O organismo corpóreo-espiritual da mulher está formado para a função da maternidade natural, e a procriação dos filhos foi ratificada pelo sacramento do matrimônio e deste modo foi assumida no processo vital da Igreja. Mas a participação da mulher na maternidade espiritual vai muito mais adiante; ela é chamada para favorecer nas crianças a vida da graça. A mulher é um órgão imediato da maternidade sobrenatural da Igreja e participa desta maternidade sobrenatural. E isso não se reduz só aos próprios filhos. O sacramento do matrimônio fundamentalmente inclui a missão recíproca de favorecer o fazer nascer a vida de graça no cônjuge; também é característico da mãe incluir em sua preocupação materna a todos esses que vivem dependendo dela; e, finalmente, é missão de todo cristão suscitar e promover a vida de fé em toda alma, sempre que seja possível. A mulher é chamada de modo particular para esta missão, devido à posição especial que nela está em frente ao Senhor.

A narração da criação põe à mulher junto ao homem como ajuda proporcional, de forma que eles obrem juntos como um ser único. A carta aos Efésios representa esta relação como uma relação entre cabeça e corpo, como um símbolo da relação entre o Cristo e a Igreja. Por isso é necessário ver na mulher é um símbolo da Igreja. Eva, que nasce do lado de Adão, é um símbolo da nova Eva – por tal nós entendemos a Maria, mas também à Igreja inteira – que nasce do lado aberto do Adão novo. A mulher ligada por um matrimônio genuinamente cristão, quer dizer, por uma unidade de vida e de amor indissolúvel com o seu esposo, representa à Igreja, esposa de Cristo. Esta personificação da Igreja é mais íntima e mais perfeita na mulher que, qual sponsa Christi, consagrou sua vida ao Senhor e se uniu com Ele com um laço indissolúvel. Ela está ao seu lado como a Igreja, como a Mãe de Deus, que é o protótipo e a célula germinal da Igreja como colaboradora na obra da redenção. O dom total do seu ser e de toda sua vida, lhe faz viver com Cristo e colaborar com Ele; isso também significa sofrer com Ele e morrer aquela morte da qual a vida de graça surge para a humanidade. E assim a vida da esposa de Deus se enriquece com a maternidade espiritual sobre toda a humanidade redimida; e não existe diferença se ela trabalha diretamente entre as pessoas ou se ela com o sacrifício traz frutos de graça, que nem ela nem nenhum outro ser humano tem conhecimento.

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